Quando, aos 17 anos, a Beatriz fez uma lista de todas as questões que a presença de um cão levanta e as respectivas soluções, fiquei sem saída. “Então e que cão?, perguntei-lhe eu. “Já fui a um espaço da Associação Adoro Mimos e apaixonei-me por um rafeiro que estava lá. Queres ver as fotos?”, perguntou ela. A verdade é que assim que vi o Brownie senti que ele seria o nosso cão. E, quando o conhecemos foi paixão à primeira vista.
O nosso Brownie tem um olhar meigo que diz tudo sem precisar de uma única palavra.
Hoje, o Brownie faz parte da família. Tudo se pensa e decide respeitando as suas necessidades, tal como para qualquer um de nós. O Brownie faz-nos muito bem a todos. A sua doçura, carinho, generosidade, alegria contagiante e amor incondicional, são uma lição diária.
Amar um animal é um privilégio.
Ter o Brownie é um privilégio. Sermos amados por ele, uma felicidade. E, por isso, neste Dia Internacional do Animal Abandonado – assinalado, desde 1992, no terceiro sábado do mês de Agosto – convidei duas associações que pode visitar e, quem sabe, encontrar o seu novo melhor amigo.
Testemunho de Joana Ribeiro, voluntária na associação Animais de Rua:
A associação Animais de Rua foi criada para tentar minorar o sofrimento dos muitos milhares de animais nas ruas, esterilizando-os para que não se reproduzam, tratando-os quando estão doentes e alimentando-os.
Missão: ajudar animais de rua!
Estes animais vivem sem acesso a cuidados de saúde básicos, alimentação suficiente, abrigo ou conforto; vítimas de fome, doenças e maus-tratos, condenados a existências curtas e sem qualidade de vida.
Um trabalho feito a nível nacional
Somos uma equipa de mais de 160 voluntários a nível nacional que diariamente se depara com muitas situações de abandono de cães e gatos, animais que estão habituados ao conforto de um lar e são largados na dura realidade das ruas, incapazes de se protegerem, em grande sofrimento psicológico e muitas vezes físico.
Esterilizar é Proteger
Trabalhamos diariamente para combater esta realidade, em cooperação com cerca de 17 municípios e freguesias, outras organizações, famílias de acolhimento que se disponibilizam a acolher animais dóceis das ruas temporariamente, parcerias com várias entidades públicas e privadas, campanhas de sensibilização contra o abandono e sensibilizando sempre para a importância da esterilização. Promovemos, ainda, o convívio pacífico entre os animais e as pessoas, em respeito pelo bem-estar animal e a saúde pública.
Como me tornei voluntária na associação Animais de Rua
Integrei a equipa de voluntários do núcleo do Porto da associação em 2014, após pedir ajuda para um gato ferido que via diariamente na ida para o trabalho, mas que não conseguia ajudar, pois não se deixava tocar. Descobri o método CED (Capturar-Esterilizar-Devolver) graças à associação, que, com equipamento especializado, capturou o Camões, o esterilizou, tratou e posteriormente devolveu ao seu local de origem.
Ver o Camões regressar à colónia, um animal diferente, curado, belíssimo, a correr feito louco quando foi libertado, vê-lo engordar, vê-lo feliz de volta à sua casa, foi a única prova que precisava para saber cá dentro, ainda antes de absorver todo o conhecimento e aprender tudo o que teria (e ainda tenho) de aprender, que o CED é tudo. É trabalho, é esforço, é sacrifício, é jogo de cintura, é compromisso, é cansaço, é exaustão, é tristeza, é alegria, é amizade, é companheirismo, é discussão, é aprendizagem, é crescimento, é evolução. O CED é amor.
Este é um trabalho que faz todo o sentido para mim.
Este trabalho com animais silvestres, animais que de outra forma não poderia ajudar, fez todo o sentido para mim, e desde essa primeira colónia, onde o Camões vivia, comecei a envolver-me cada vez mais com a associação, enquanto voluntária de terreno, depois maioritariamente administrativa e hoje trabalhando a tempo inteiro na associação, dando apoio nacional em várias áreas, de terreno e administrativas.
Hoje, tal como naquele primeiro dia, acredito que este trabalho é tão importante para a vida dos animais que ajudamos, como para as comunidades em que estes estão inseridos.
Fazer a diferença no Mundo.
Teria tanta coisa para dizer, tantas histórias para contar, tantos exemplos de como a Animais de Rua faz a diferença na vida dos animais, das pessoas, das comunidades e do Mundo, sim, do Mundo. Nós fazemos diferença no mundo! Fazemos parte dele e todos os dias, com cada pedacinho que damos de nós, mudamos um pedacinho dele.
A Animais de Rua mudou a minha vida, literalmente. E, não estou a ser poética ou exagerada. A Animais de Rua tomou conta de mim e moldou-me de uma forma que eu diria ser impossível.
Testemunho de Joana Rita Sousa, voluntária na União Para a Protecção dos Animais (UPPA):
Dizem por aí que os irmãos mais novos tendem a seguir os passos dos irmãos mais velhos: pois bem, eu não pratiquei taekwondo nem estudei gestão, como o meu irmão. Todavia, segui os seus passos no mundo do voluntariado. Por sua causa, visitei a UPPA e fiquei rendida. Porquê?
A motivação para o voluntariado na UPPA
O voluntariado acontece mesmo na vida de quem tem uma vida ocupada. O factor tempo é importante na nossa tomada de decisão: ou temos esse tempo liberto ou temos de arranjar forma de o libertar. É uma decisão que envolve compromisso e dedicação, tal como tantas coisas na nossa vida. O voluntariado é um acto que tem sempre algum egoísmo, pois o que recebemos é sempre “maior” e “melhor” do que aquilo que damos.
Uma vez por semana eu e uma mão cheia de voluntários rumamos até à zona da Terrugem (Sintra), à UPPA (União Para a Protecção dos Animais), para passear, mimar, limpar, cozinhar; Em suma, para praticar o verbo “voluntariar”.
Diferentes formas de “voluntariar”
A minha forma preferida de voluntariado é o poop collecting. Sim, isso mesmo que estão a pensar. Os meus sábados de manhã são passados na lavagem e na limpeza das box onde estão entre 90 a 100 cães. Como devem imaginar, isso resulta em baldes de muito poop. É um dos aspectos com menos glamour, mas faz parte do voluntariado.
Assim como faz parte alimentar e medicar diariamente, acompanhar os animais ao veterinário, marcar presença em eventos da UPPA, levar a malta a passear, gerir as contas da associação, garantir as vacinas da malta e gerir os e-mails com apelos vários e com propostas para adopção.
Além destas formas mais óbvias de praticar o voluntariado, há ainda quem se ofereça para fotografar os animais e, assim, proporcionar conteúdo para as pessoas que garantem a comunicação da UPPA nas redes sociais e no site. Há designers que se oferecem para tratar das imagens que fazem parte das peças de comunicação da UPPA, bem como do merchandising cuja venda serve para obtermos receitas para a UPPA.
Em primeiro lugar, os animais da UPPA
Independentemente do tipo de voluntariado que se escolhe praticar, há algo que une todos os voluntários da UPPA: os animais. No meu caso, o Fred foi o cão que me seduziu e me fez visitar a UPPA. Foi amor à primeira vista, através de uma fotografia no facebook da UPPA.
Este é um namoro que dura até aos dias de hoje, pois o Fred ainda não encontrou a família que o vai adoptar e com quem poderá ser feliz. Até lá, o Fred é feliz na UPPA. O Fuga, a Mel, a Yara, a Zippy, o Ben, a Esperança, o Sky e todos os outros animais roubam-nos sorrisos em cada dia de voluntariado. Sabemos que estamos lá para os ver ir embora e por isso o momento da adopção é sempre um misto de alegria e de tristeza.
E, de vez em quando, há aquela recompensa inesperada
Uma das maiores recompensas do voluntariado na UPPA é o agradecimento que os animais manifestam. Durante a sua estadia na UPPA e também no “depois da UPPA”, quando já estão com a família que os adoptou. Esse agradecimento acontece quando, inesperadamente, encontras a Groselha numa rua de Lisboa, com a adoptante, chamas pelo seu nome, ela levanta as orelhas e te recebe com muitos beijinhos e abraços caninos. Ou quando vais visitar o Gaby à sua casa e ele te recebe com o mesmo entusiasmo de sempre. Estes momentos são valiosos e mostram-nos como a sua estadia na UPPA foi feliz e lhes traz boas recordações.
Fazer a diferença
Uma associação como a UPPA existe pelos animais e encontra a sua subsistência junto das pessoas que contribuem: os sócios, os voluntários, os parceiros, os padrinhos e os adoptantes. Há muitas formas para ajudar associações como a UPPA e acreditem que toda a ajuda faz a diferença. Gosto de pensar que faço a diferença na vida daqueles animais – e eles nem imaginam como fazem diferença na minha vida!
O amor que os animais nos dão é, sem dúvida, incondicional.
A alegria com que nos recebem diariamente, como se não nos vissem há décadas, os mimos e atenções permanentes, são numa proporção que raramente encontramos nos humanos.
Caso sinta que tem condições para cuidar de um animal, entregue-se a este amor incondicional.
Nota: Fotografia destaque por Verónica Silva.