A importância dos amigos

Cláudia Morais // Julho 23, 2018
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Que importância têm os amigos na nossa vida? Quantos mais melhor? Ou será que os bons se contam pelos dedos de uma mão? Os amigos são mesmo a família que escolhemos? E, que importância tem a amizade numa altura em que é fácil colecionar amigos nas redes sociais?

Se há uma coisa que pode ser determinante no que toca ao nosso bem-estar é a força dos laços afetivos que construímos. Constato isso mesmo todos os dias no meu gabinete: no meio da crise – conjugal, profissional, financeira ou de outra natureza -, a certeza de que há amigos com quem se pode contar faz toda a diferença. É assim quando um casamento de vinte anos termina e os amigos telefonam diariamente «só para saber como é que estás». Ou quando, numa situação de desemprego, aparecem lá em casa com umas compras que podem dar jeito.

Os amigos funcionam como uma rede que nos suporta nas situações em que nos sentimos mais vulneráveis e são eles que muitas vezes nos lembram que, aconteça o que acontecer, sentir-nos-emos sempre amparados. Essa pode ser a diferença entre sentirmo-nos momentaneamente tristes e deixarmo-nos abater pelos acontecimentos mais difíceis.

Os amigos são (mesmo) a família que escolhemos 

Quem teve o privilégio de crescer numa família onde o afeto era manifestado com abertura e onde os amigos eram tratados com carinho, entrega e disponibilidade, sabe que o coração tem uma elasticidade incrível e que a vida é muito mais bonita quando estamos rodeados de amigos a quem queremos bem. Mas, quem não teve essa sorte pode ser igualmente capaz de usufruir destes laços. Tenho-me cruzado com pessoas que – contra todas as probabilidades, precisamente por terem crescido em ambientes familiares caóticos, negligentes – construíram laços de amizade que passaram a ser a sua família.

Ana nunca teve uma mãe presente. Hoje está grávida e à filha, prestes a nascer, não faltará o carinho de um conjunto de tios “emprestados”, tão capazes de a amar. Para Carolina, a força e o amparo das amigas de infância foram a alavanca para pôr fim a uma relação onde foi vítima de violência doméstica.

Digo muitas vezes que o amor salva. Se prestarmos atenção, o amor está em todo o lado e há quem se preocupe connosco, quem se comprometa, mesmo que não haja laços de consanguinidade.

Quanto mais melhor ou poucos mas bons? 

Dependendo das marcas que fiquem das desilusões próprias de quem se entrega às relações, há quem defenda que não é possível ter muitos amigos e que, à exceção do núcleo duro capaz de encher os dedos de uma mão, o resto são “conhecidos”, como se fosse preciso estabelecer um limite para o número de pessoas a quem somos capazes de dar o nosso afeto e a nossa disponibilidade.

Há pessoas que têm dois ou três amigos em quem confiam plenamente e há outras que vivem com a certeza de poder contar com algumas dezenas de amigos chegados. Está tudo bem tanto num caso como no outro.

A amizade, como qualquer outra relação, requer algumas competências e é isso – mais do que o número de amigos que temos – que determina a qualidade dos nossos laços e, consequentemente, a qualidade da nossa vida.

Ser um bom amigo implica prestar (muita) atenção, querer (mesmo) saber, estar “lá” quando é preciso e desejar genuinamente a felicidade de alguém. Manter uma amizade – tal como um casamento – implica saber perdoar, colocar a relação à frente de algumas quezílias e fazer o que estiver ao nosso alcance para que a voracidade das rotinas não nos impeça de continuar a mostrar preocupação e cuidado com regularidade.

É a mais pura verdade que há pessoas que nos fazem sentir permanentemente “em casa”, independentemente do tempo que passemos sem as ver. Mas, nós mudamos todos os dias e os nossos amigos também e é mais fácil sentirmo-nos amparados quando há alguém que faz questão de estar presente e que acompanha o nosso crescimento emocional, ainda que distante fisicamente.

A amizade não é só farra, mas também não pode ser apenas a resposta aos momentos de vulnerabilidade. Há quem seja capaz de partilhar copos todas as semanas e apague o nosso número de telefone ao primeiro sinal de crise. Mas, também há quem apareça nos momentos difíceis, mas não reconheça a importância de estar “lá” nos momentos de celebração. E, como é bom sentir que há pessoas que se importam com as nossas conquistas e que fazem questão de nos abraçar também nos momentos de felicidade!

A amizade e as redes sociais

Viver com a ilusão de que sabemos tudo sobre a vida dos nossos amigos só porque seguimos os seus passos no Facebook ou no Instagram pode levar-nos a surpresas muito desagradáveis. Da mesma maneira que cada um de nós filtra aquilo que partilha nas redes sociais, nenhum “Gosto” ou comentário público pode suplantar a força de um abraço ou de um telefonema «só para saber se está tudo bem».

Mas, as redes sociais têm tido um papel muito positivo no restabelecimento de algumas amizades. É comovente ver como, por exemplo, para alguns seniores, o Facebook trouxe a possibilidade de reverem amigos de infância, camaradas do tempo da tropa ou pura e simplesmente amigos que perderam de vista em função das voltas que a vida dá.

É também graças às redes sociais que algumas vezes nos lembramos do amigo ou da amiga a quem não telefonamos há muito tempo. Às vezes é através do Facebook ou do Instagram que nos damos conta de que há algo que não está a correr bem na vida de uma pessoa de quem gostamos e esse pode ser o mote para agarrar no telefone e mostrar o nosso afeto e a nossa disponibilidade.

É por isso que não consigo diabolizar as redes sociais. Não acredito que possamos ligar-nos verdadeiramente a alguém apenas por essa via nem acredito na força de cinco mil amigos virtuais, mas sei que todas as plataformas de comunicação nos podem aproximar das pessoas que são importantes para nós, desde que continuemos a prestar atenção e a querer mostrar o nosso afeto e disponibilidade.

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