A prática de uma alimentação saudável deve ser estabelecida desde tenra idade, uma vez que os hábitos alimentares adquiridos durante a infância podem determinar os comportamentos alimentares na idade adulta. De entre os diversos fatores que influenciam a ingestão alimentar das crianças e jovens, a escola revela-se um local privilegiado para a modulação dos comportamentos alimentares e para a promoção da saúde, visto proporcionar aos alunos conhecimentos e competências para a adoção de comportamentos saudáveis.
É na escola que os alunos fazem a maioria das suas refeições.
Os alunos passam, em média, seis horas do seu dia na escola, onde fazem a maioria das suas refeições, podendo para alguns representar o acesso à única refeição quente do dia. Por isso, o ambiente escolar, onde se inclui a oferta alimentar na cantina, bufetes e máquinas de venda automática (MVA), evidencia-se como um dos vetores de atuação para a promoção de escolhas alimentares saudáveis pelos alunos.
No entanto, a oferta alimentar nas escolas nem sempre reflete aquilo que são as orientações da Direção-Geral da Educação (DGE) para as ementas e refeitórios escolares, para os bufetes escolares e para as MVA. Isto é particularmente preocupante quando, segundo o último retrato dos hábitos alimentares dos portugueses, 25% das crianças e 32,3% dos adolescentes têm excesso de peso ou obesidade. Além disso, 69% das crianças e 66% dos adolescentes não consome a quantidade de fruta e hortícolas recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Adicionalmente, os adolescentes são o grupo etário com maiores consumos médios de refrigerantes, “bolachas, bolos e doces” e “snacks salgados e pizzas”.
O papel do nutricionista nas escolas
Neste sentido, para que o ambiente alimentar nas escolas portuguesas seja salutogénico, seria importante a presença de um nutricionista, dando cumprimento à resolução da Assembleia da República n.º 67/2012 de 10 de maio. As suas responsabilidades centram-se, desde logo, na garantia da aplicação e operacionalização das medidas orientadoras da DGE, e da restante legislação em vigor no que respeita à alimentação escolar, garantindo a adequação alimentar e nutricional de toda a oferta alimentar da escola. A sua intervenção deverá focar-se de igual modo no envolvimento dos alunos e de toda a comunidade escolar, de modo a transmitir-lhes conhecimentos e competências em alimentação e nutrição, tornando-os capazes de fazerem escolhas alimentares mais saudáveis.
O nutricionista na escola, ao intervir em simultâneo na oferta alimentar, no aumento de literacia alimentar e nutricional e na capacitação dos alunos e dos restantes agentes influenciadores do consumo alimentar, estará a promover a saúde através da alimentação.
A sua integração nas escolas portugueses, em articulação com os nutricionistas das autarquias, da saúde e das empresas de alimentação coletiva seria certamente determinante para melhorar os hábitos alimentares das nossas crianças, com consequentes ganhos em saúde no futuro.