Amor vs Apego. Este é um tema fortíssimo, que na verdade deveria ser discutido mais vezes, para que pudéssemos estar mais conscientes das atitudes que temos em prol do amor e das atitudes que temos em prol do apego
Amor consciente
É preciso estarmos muito atentos ao que nos leva a agir de determinada forma e o que é que determinada ação vai desencadear no outro. É mesmo importante que dentro de ti surja a verdade. Amar não é prender, não é controlar, nem é semear o medo no outro para que tenhas a certeza de que ele vai ter mais cuidado ou vai ser mais facilmente controlado por ti.
O amor confia e dá espaço. O amor tem a capacidade de estar consciente do que é o medo e apego. O amor cuida, mas não é obcecado, controlador ou manipulador. É claro que as pessoas não manipulam ou controlam com más intenções, a intenção é sempre a melhor — proteger –, mas é preciso estar muito alerta ao que fazemos, de como falamos e do efeito que estamos a produzir na mente do outro. Se a nossa protecção está a produzir ansiedade, inquietação, medo, angústia ou sensação de prisão no outro, então não estamos a amar, estamos apegados, e esse apego está a ser destrutivo para o nosso filho(a), parceiro(a), amigo(a), irmão(ã), pai/mãe, etc. Amar é querer saber em consciência que a nossa liberdade termina onde começa a do outro.
Amar é ser livre
Se tu te tornas um com alguém que amas, tudo o que fazes ao outro estás a fazer a ti mesmo; todas as vezes que restringes o outro de fazer o que tem vontade, estás a restringir-te a ti mesmo; todas as vezes que tu prendes o outro, estás a cortar a liberdade a ti mesmo; todas as vezes que tu magoas o outro, estás a magoar-te a ti mesmo.
Deixo um exemplo muito simples: em muitos relacionamentos existem parceiros que impedem o outro de manter amizades que já existiam antes, principalmente quando essas amizades são com pessoas de sexos opostos. Quando um cônjuge exige que a vida do outro mude, todas as vezes que um cônjuge anula a liberdade e a vontade do outro, está a prender-se, acima de tudo, a si próprio. Porquê? Porque uma pessoa que não confia não é livre, uma pessoa que teme perder o outro não é livre, uma pessoa que controla as escolhas do outro não é livre. Tudo o que fazemos ao outro estamos a fazer a nós próprios. E, a longo prazo, essa prisão em que ambos viverão vai dar em discussão, em mágoa, em culpas, em acusações; a pessoa que se reprimiu e deixou de viver de acordo com a sua essência vai pôr a responsabilidade nas costas de quem lhe pediu que se anulasse (embora tenha permitido essa anulação). Essa prisão, fruto do apego, não é amor, é controlo, é dependência, é egoísmo, é insegurança.
O verdadeiro amor
No verdadeiro amor tudo é e tudo és tu, vocês são tudo, se o(a) deixares livre, tu serás livre. Se entrares no mundo das exigências, se quiseres moldar o outro a teu bom proveito, se quiseres castrar os passos e vontades de quem tens a teu lado, tu serás a primeira vítima do apego. Tu serás um prisioneiro dos teus fantasmas e estás tudo menos a viver em amor, estás antes na teia do medo, e isso vai embrulhar-te na escuridão. Acho curioso ouvir várias pessoas, quer do sexo feminino, quer do masculino, falarem na palavra egoísmo, chamar o outro de egoísta neste tipo de contextos: “É egoísta, não prescinde de fazer surf/andar de bicicleta/mota, etc.”; “É egoísta, não deixa de ir a jantares de amigos para ficarmos juntos.”; “É egoísta, não vai acompanhar-me àquele jantar em que são só casais.” Vamos ler todas estas questões com os olhos da alma. Quem é o egoísta aqui? A pessoa que quer respeitar as suas próprias vontades ou a pessoa que exige que o outro faça as coisas contrariado, só para a agradar?
Há que saber diferenciar uma pessoa egoísta e autocentrada — alguém que se baseia única e exclusivamente nas suas vontades e em satisfazê-las, independentemente das vontades dos outros — de uma pessoa independente e livre — alguém solto, espontâneo, que goza da liberdade e que não segue obrigações. As pessoas confundem o egoísmo com independência e, sem se aperceberem, tornam-se nos verdadeiros egoístas, uma vez que cortam a espontaneidade, as vontades e a leveza do outro. Isto é totalmente o oposto do amor, isto é o resultado do apego.
Estar alerta sempre e em todos os relacionamentos!
Mais uma vez é importante estarmos atentos, pois o mesmo acontece nas amizades e no seio familiar. Há pessoas que cobram a atenção dos amigos, que controlam se eles são mais atenciosos com outros, que exigem que eles estejam presentes e que os façam sentir mais especiais e importantes. Nas famílias há filhos que, mesmo em adultos, comparam a relação que os pais têm com os restantes irmãos, estão sempre no controlo, estão sempre a comparar como o irmão x foi tratado, e atrás disto vem a cobrança e a exigência; também estes padrões são fruto do apego. Este torna-nos cegos, carentes, famintos de atenção, torna-nos irracionais, incoerentes e, até, meio loucos. São pequenos sinais como estes que te vou dando que te vão fazer pensar duas vezes antes de dizeres que amas e antes de agires sobre a forma de apego.
Estranha forma de amar
Temos uma maneira estranha de amar, vivemos o sentimento mais puro que existe preenchendo-o de exigências, obrigações e castrações. Onde pode existir amor aqui? Fala-se tanto em amor incondicional e a primeira coisa que se faz quando se começa a sentir amor é condicionar o outro.
Faz uma introspecção sobre todas estas questões, entra na tua consciência e percebe se tens amado ou se tens apegado. Faz uma verdadeira autoanálise e sente se tu estás livre para amar, sente se o outro está livre para amar e para Ser (seja ele teu parceiro(a), mãe/pai, amigo(a), irmão(ã), primo(a) ou tio(a). Escuta a voz do verdadeiro amor e lembra-te do que diz Osho: “O amor é a única libertação do apego!”. E, tu só estarás realmente preparado para amar se descobrires esse amor pela tua alma, se realmente compreenderes que amar o outro implica deixá-lo Ser tal e qual ele quer Ser. Se num relacionamento tu te permites viver tal e qual tu queres viver, tu vais dar espaço para o outro ser o reflexo da sua própria alma. Mas, se tu escolheres anular-te para viver esse relacionamento, tu vais começar a exigir que o outro faça exactamente o mesmo que tu.
Ama-te e respeita a tua essência, a tua autenticidade e todas as escolhas que vêm do teu coração. Se o fizeres, saberás que o apego é uma consequência de uma tremenda falta de amor por quem és e pelo que tens direito a ser, e esse apego vai fazer com que tu sejas com o outro exatamente o mesmo que és contigo próprio — ninguém! É isso mesmo, leste bem, ninguém! Quando não te amas e não te respeitas, tu não sabes quem és, por isso és ninguém; e quando pedes que o outro deixe de ser, ele vai, a certa altura, perder a identidade, vai deixar de saber quem é e, por isso, será igualmente ninguém! Quantos adolescentes se perdem na identidade por não terem espaço para pensar sobre as suas próprias cabeças? Quantos casais esquecem as suas paixões, passatempos, amigos para agradar o seu parceiro? Quantos pais deixam de viver as suas vidas para dar a filhos adultos aquilo que eles podiam fazer por eles próprios?
Refletindo sobre isto: Tens a certeza de que, em nome do amor, tu queres contribuir para anulação da alma de alguém que tu disseste amar verdadeiramente?
Nota: Este tema está abordado de forma profunda no livro “Simplifica a tua vida”, da autoria da especialista.