Quando a vida nos confronta com obstáculos, com acontecimentos que não estavam nos (nossos) planos e/ou com situações que nos colocam à prova, há um “ingrediente” que nos ajuda a olhar para a realidade como ela é e que nos permite arregaçar as mangas e fazer as escolhas mais conscientes: o amor-próprio.
Temos o direito de nos sentirmos tristes.
Quando fazemos um arranhão, lavamos a ferida, colocamos ‘betadine’ e, se for preciso, tapamo-la com um penso rápido. Quando nos constipamos, precisamos de bebidas quentes e de lenços. E perante a rejeição, um despedimento ou um divórcio? O que é que podemos/devemos fazer para lidar com os acontecimentos emocionalmente mais difíceis da nossa vida?
Quando alguma coisa corre mal e nos desviamos do que sonhámos ou imaginámos para nós, temos o direito de nos sentirmos tristes. É legítimo que nos deixemos abater e que nos sintamos vulneráveis.
“E agora? O que é que eu vou fazer?”
Quando gostamos de nós e reconhecemos que o nosso valor se mantém, independentemente das conquistas, dos fracassos ou dos reveses da vida, é muito mais provável que consigamos lidar com a tristeza sem que ela tome conta de nós. Falamos sobre os nossos sentimentos, sobre os acontecimentos difíceis e, mais cedo ou mais tarde, arregaçamos as mangas e vamos à luta.
Quando, pelo contrário, olhamos para estes acontecimentos como se eles nos definissem, é mais provável que nos sintamos inferiorizados, que questionemos o nosso valor. Olhamos à nossa volta e sentimo-nos insuficientes.
Quando uma pessoa olha para um insucesso como uma prova do seu pouco valor, é mais provável que se sinta engolida pela vergonha e que evite mostrar a vulnerabilidade a quem quer que seja. Fecha-se sobre si mesma, com medo de que os outros a vejam também dessa forma e, involuntariamente, contribui para um círculo vicioso perigoso.
A verdade é que, quando nos ligamos, sentimo-nos amados. Quando aceitamos a nossa tristeza e nos expomos, estamos a dizer a nós próprios que continuamos a ser merecedores do amor das pessoas que nos rodeiam, apesar dos fracassos. Pelo contrário, quando evitamos vulnerabilizar-nos, expomo-nos menos, recebemos menos apoio e convencemo-nos da nossa insuficiência.
Vivemos cada vez mais pressionados no sentido de mostrarmos apenas o lado positivo da vida.
Nas redes sociais, tal como na vida real, vamos usando cada vez mais filtros e fugimos do lado lunar, como se não houvesse lugar para o sofrimento. Na prática, arriscamo-nos a ser a geração mais medicada, mais obesa e mais dependente de álcool e drogas – tudo para evitar olhar de frente para as dificuldades da vida.
É normal que, de vez em quando, tenhamos medo de não sermos suficientemente bons, suficientemente interessantes, suficientemente inteligentes ou suficientemente atraentes. Mas é desejável que aceitemos que, apesar de todos os erros, obstáculos, dificuldades ou situações em que nos sintamos rejeitados, a vulnerabilidade é uma forma de nos ligarmos e de nos sentirmos amados. E que a forma como lidamos com a vulnerabilidade vai influenciar a forma como olhamos para o nosso valor.
Ter e ser o apoio de quem gosta de nós
Por outro lado, é desejável que nos lembremos do poder que cada um de nós tem no sentido de ajudar as pessoas à nossa volta a lidar com os acontecimentos difíceis. A família, os amigos e todas as pessoas que constituem a nossa rede de suporte são elementos fundamentais no desenvolvimento do amor-próprio e da resiliência. Quem é que nunca ouviu frases como “O meu professor de Matemática sempre me incentivou”, “A minha mãe sempre acreditou em mim” ou “A minha avó sempre disse que eu era capaz”?
Muitas vezes, a forma negativa como olhamos para nós é contrabalançada pelo olhar otimista e caloroso de quem não se cansa de nos lembrar do nosso valor. Todos nós temos o poder de fazer o mesmo em relação a quem está à nossa volta. Tem prestado atenção às pessoas que, à sua volta, estão a viver algum revés? Que papel acha que pode ter no sentido de as ajudar a alimentar o amor próprio e, em função disso, ser capaz de seguir em frente?