São muitas as pessoas que passam grande parte da vida preocupadas com o que devem/podem comer para serem mais saudáveis e tantas outras que bebem religiosamente uma percentagem de água diária para manter o corpo bem hidratado. E tudo isto está absolutamente certo, mas e a respiração? Se pensarmos que o corpo humano consegue viver até 50 dias sem comida, 3 dias sem água, mas apenas consegue chegar aos 4 minutos sem oxigénio, como é que é possível passarmos uma vida inteira sem nos preocuparmos em observar o estado na nossa respiração?
Respiração esta força vital que te permite estar aqui neste exato momento a ler o meu artigo, mas da qual muito provavelmente raramente te lembras.
Respiração este super poder que todos temos, mas que a maioria nem se apercebe.
Em contexto de aula, são muitas as pessoas que chegam até mim completamente desconectadas da sua respiração, com grandes crises de ansiedade e com tendência para a hiperventilação e isto mostra apenas uma única coisa: os elevados níveis de stress a que diariamente estamos sujeitos.
Respirar conscientemente é muito mais do que uma coisa zen que se faz em aulas de Yoga, é acima de tudo higiene mental e física.
Preparar a mente e o corpo antes de ir para a cama com alguns exercícios de respiração profunda, onde colocas as tuas mãos na barriga e respiras profundamente, ajuda a produzir óxido nítrico, uma molécula que é produzida naturalmente pelo nosso corpo e que permite a vasodilatação, relaxando assim os músculos. Isto significa que introduzir diariamente 10 a 15 minutos de respiração profunda e consciente antes de adormeceres te vai ajudar a teres uma noite mais descansada.
Todos nós respiramos isso é um facto, mas será que respiramos realmente bem?
Aquilo que mais observo nos alunos que chegam à minha escola é que a maioria tem uma respiração extremamente superficial, ou seja a respiração fica essencialmente na zona do peito sendo raro o respirar fundo, o expandir a barriga e o usar toda a capacidade do diafragma. Isto acaba por tornar as pessoas mais suscetíveis a desenvolverem ansiedade, a criarem tensões nos ombros e na cervical, pois ao não respirarem completamente o peito nunca se abre por completo.
Se observarmos um bebé a respirar percebemos que a sua respiração é absolutamente extraordinária.
A barriga expande em primeiro lugar, conseguimos perceber que o diafragma está em pleno trabalho, e logo de seguida o peito e os ombros trabalham. É uma máquina perfeita a funcionar em pleno vapor e conseguimos perceber isso quando os bebés choram, por exemplo. Será que é por terem melhores cordas vocais do que nós adultos? Não. É essencialmente por usarem a sua capacidade respiratória a 100% conseguindo assim armazenar mais oxigénio dentro de si fazendo-se assim ouvir mais alto.
Com o passar do tempo, vamos perdendo a conexão com a respiração.
Ora o que vai acontecendo é que à medida que crescemos, à medida que começamos a ganhar consciência do nosso corpo, das responsabilidades, da vida no geral, o ser humano começa a viver muito mais em piloto automático levando lentamente à desconexão da respiração e ao atrofiar de um músculo extremamente importante: o diafragma.
O diafragma é um dos principais músculos da respiração.
Durante a inspiração, o diafragma contrai e desce e com isso reduz a pressão intratorácica e comprime as vísceras abdominais, facilitando assim a entrada de ar nos pulmões. Ao expirarmos o diafragma relaxa e sobe, aumentando assim a pressão intratorácica para expulsar o ar dos pulmões.
O que conseguimos perceber é que ao deixarmos de respirar profundamente e conscientemente o nosso diafragma começa a atrofiar e a perder capacidade de expansão e contração (tal como qualquer músculo, se não for devidamente usado e trabalhado). É por isto que muitas pessoas dizem algo como:
“Eu não respiro, nem me apercebo disso!”
É óbvio que as pessoas respiram, mas é tão subtil que nunca chegam a perceber o impacto disto numa maior oxigenação do cerébro e do corpo como um todo.
Queres saber um pequeno segredo? Acredito profundamente que se as pessoas respirassem profundamente todos os dias e se ligassem mais à respiração, teríamos uma sociedade mais feliz e menos preocupada, afinal de contas a respiração também ajuda a aumentar a serotonina, uma das hormonas da felicidade.
A importância de respirarmos conscientemente todos os dias.
A verdade é que depois de toda esta explicação mais teórica, aquilo que eu gostava realmente de deixar como um legado a quem se cruza comigo é a importância de pararmos diariamente por 10 a 15 minutos e criarmos este hábito de começar a respirar fundo. Não custa dinheiro, não precisas de nenhum aparelho específico, apenas precisas de sentar-te confortavelmente – gosto muito de sugerir sentar numa cadeira com os pés no chão, no entanto podes fazê-lo ao sentares-te no chão, desde que garantas que não começas a arredondar as costas.
No fundo é isto, fazer da respiração um hábito consciente.
Tal como te preocupas em comer bem, beber água, dormir as horas suficientes, começa também a trazer a preocupação de manteres uma respiração profunda e completa diariamente. Garanto-te que a tua saúde vai realmente agradecer.
2 Sugestões de respirações conscientes para praticares diariamente:
Se não souberes como o fazer podes usar estas duas sugestões que te deixo ou vires até à minha escola, em Carcavelos, para aprenderes mais sobre respiração consciente.
. Exercício para o acordar
Mantém as costas direitas e inspira bem lentamente durante 4 tempos e expira pelos mesmos tempos. Procura fazer no mínimo 10 ciclos desta respiração completa onde vais estar a abrir o peito e a permitir o corpo começar a tomar atenção que o dia está a começar.
. Exercício antes de dormir
Deita-te na cama, coloca a mão esquerda na barriga e a mão direita no peito. Inspira de forma lenta e profunda em 4 tempos e expira em 8 tempos. Se sentires que é demasiado procura reduzir para 3-6, o objetivo aqui é duplicar a expiração para que a tua respiração se torne cada vez mais lenta e leve o teu corpo a entrar em modo de descanso.
Para terminar, uma curiosidade:
Sabias que na Índia acredita-se que viemos ao mundo com um número limitado de respirações e que quanto mais rápido respirarmos mais depressa morremos? Se é verdade ou não, nunca saberemos, mas se pensares que no reino animal os animais que vivem mais tempo são os que respiram mais lentamente parece fazer sentido.
Nota: Fotografias por Margarida Pestana