Já alguma vez pensaste na forma como respiras? Já alguma vez sentiste a tua respiração? É fácil? Harmoniosa? Eficaz?
Na maioria das vezes não temos consciência de como respiramos. Só nos apercebemos que não respiramos da forma correta quando surge algum desconforto/disfunção seja a nível respiratório, postural, pélvico, emocional… E quando procuramos ajuda para resolver o nosso desconforto/disfunção, independentemente da área, uma das ferramentas para ajudar passa sempre por tomar consciência da respiração.
Em qualquer tipo de reabilitação a respiração deve fazer parte, pois a nossa cura passa também por saber como respirar.
Admirados? Pensem comigo…
Cada vez que aprendemos algo para nos ajudar, seja a nível físico, emocional, energético ou espiritual o que nos dizem? “Respira fundo, respira conscientemente, respira, respira, respira e não pira!”
Isto porque a respiração tem uma importância vital.
É a primeira coisa que fazemos assim que nascemos (Inspiramos – iniciamos a vida) e a última coisa que fazemos quando morremos (Expiramos – terminamos a vida). É um constante iniciar e fechar de ciclos.
E o que é que isto tem a ver com músculos pélvicos, com a reabilitação pélvica?
. Mecanicamente a harmonia entre o abdómen, a respiração, a postura e a pélvis (bacia) são fundamentais para o bom funcionamento dos nossos músculos do pavimento pélvico (MPP).
A pressão exercida dentro do nosso abdómen causada por um espirro, uma tosse, uma gravidez ou qualquer outro esforço vai sobrecarregar os MPP. Lembremo-nos que os MPP são o chão da nossa bacia, são músculos, por isso são como elásticos, cedem com a pressão, principalmente se ja tiverem perdido o seu automatismo de contração ou se estiverem muito tensos. E a forma como são sobrecarregados depende da harmonia gerada entre a força da gravidade, a forma como respiramos, o nosso trabalho abdominal, a nossa postura e a nossa consciência pélvica.
Para além da força da gravidade, que nos empurra constantemente de cima para baixo, quando todos, ou alguns, destes grupos musculares (MPP, diafragma torácico, abdominais, músculos da coluna) estão fracos, tensos, desarmoniosos ou pouco conscientes, a pressão intra-abdominal é alterada, e consequentemente a pressão sobre os músculos pélvicos também, aumentando a probabilidade de surgir uma disfunção pélvica, como, por exemplo, uma incontinência urinária, um prolapso pélvico. Por isso, para devolver a harmonia pélvica e reestabelecer o seu correto funcionamento é preciso avaliar outras áreas do nosso corpo para além MPP, como por exemplo: a respiração, os abdominais e a postura.
No caso específico da respiração, o diafragma torácico e os MPP trabalham em conjunto. Na inspiração o diafragma baixa e relaxa e os MPP baixam e relaxam. Na expiração o diafragma sobe e contrai e os MPP sobem e contraem. E habitualmente as pessoas com disfunção pélvica perderam esta harmonia entre eles e não fazem ideia que os dois deviam trabalhar sempre em conjunto. Separam o trabalho respiratório do trabalho pélvico ou tem a sua dinâmica respiratória invertida.
. Energeticamente podemos imaginar o fluxo respiratório como água a correr. Ou seja, se nós pensarmos num riacho, num rio, as zonas onde ele passa mais frequentemente e abundantemente são zonas que ficam mais limpas, e a água é mais oxigenada porque o fluxo da água é maior e leva com ela as sujidades, as toxinas, o lixo. Agora se pensarmos numa zona do riacho onde a água é quase escassa ou abundante mas parada o que acontece? Há uma acumulação de lixo, bactérias, tornando-se por vezes uma água imprópria para banhos, por exemplo.
Se transpusermos este pensamento para a reabilitação pélvica, quem trabalha nesta área já percebeu que a maioria das pessoas com disfunção pélvica (dores nas relações sexuais, dores menstruais, incontinências,…) raramente inspira para a zona do baixo ventre, do abdómen inferior. Essa zona está bloqueada energeticamente e com pouca mobilidade interna.
A maioria dessas pessoas respira apenas ou maioritariamente para a caixa torácica. Não permitindo que a respiração flua com a mesma energia para todas as zonas do corpo. E isto acontece muito pela falta de consciência que temos acerca do funcionamento do nosso corpo, como também por defesa do próprio corpo. Ou seja, quando temos, por exemplo, dor frequente e intensa na menstruação ou nas relações sexuais o nosso corpo automaticamente vai querer contrair essa zona, fechar, colocando-nos constantemente na posição fetal. Que é uma posição fechada e que bloqueia a abertura de todo o tronco, limitando o fluxo energético para essa zona e o trabalho do diafragma torácico, pois ele não tem espaço para se expandir.
Por isso, é importante adquirimos posturas de abertura nos momentos que não temos dor e respirarmos conscientemente para o baixo ventre, deixando o diafragma torácico expandir-se (relaxar) na totalidade durante a inspiração e contrair ao seu máximo na expiração.
Consequentemente, o fluxo energético/respiratório vai fluir para mais zonas desbloqueando os canais estagnados e os MPP, os abdominais e os músculos da coluna também vão aprender a relaxar e a contrair de forma mais eficaz e harmoniosa levando a uma diminuição das dores pélvicas e a uma normalização da função pélvica no geral.
Saber respirar faz muita diferença na nossa vida, na nossa auto-consciência, na nossa cura.
Parece magia, pois transforma a nossa consciência corporal não só a nível físico como emocional, energético e espiritual. Por isso volto a perguntar: Já alguma vez pensaste na forma como respiras?