A fotografia como terapia

Verónica Silva // Agosto 19, 2019
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Para mim, fotografar é uma espécie de meditação ativa.

Sempre gostei de fotografar. Não me lembro de outra forma sem ser no meio de máquinas e de rolos. Por isso tenho imensas memórias e recordações de quando era mais nova. Sempre me apaixonou a sensação de congelar momentos. De colecionar sensações através de uma fotografia. Já vos aconteceu olhar para uma fotografia e sentir o cheiro daquele dia? Sentir o calor. Ouvir a música que aquela fotografia guardou. Sentir o amor. Aconchegar a saudade. Chorar de dor. 

Na casa dos meus pais existem álbuns e álbuns, caixas e caixas cheias de memórias. E, muitas fotografias espalhadas pela casa. E, na minha? Às vezes penso – como posso ser eu uma apaixonada por fotografia e não ter quase nenhuma em casa? A verdade é que quando chegou a época digital continuei a fotografar, mas deixei de imprimir as fotografias. Ficaram armazenadas em discos, em pastas e quando as quero recordar às vezes nem sei muito bem onde estão.

Fotografar para olhar e ver tudo com a calma que deve ser.

Tenho muitas fotografias que passam na minha televisão, como se fosse uma enorme moldura digital de quem mais amo, mas pouco mais. E, na correria do dia a dia, com o trabalho a acumular (e trabalhando também eu com fotografia) houve uma altura da minha vida que deixei de fotografar pelo simples prazer de o fazer. De procurar a luz, de brincar com as sombras, de utilizar o vento a meu favor, sem pressa. Olhando e vendo tudo com a calma que deve ser.

E, foi assim que, numa das alturas mais difíceis da minha vida, voltei à fotografia. Estava a passar por um processo muito duro quando me decidi oferecer, como presente de aniversário, um projecto pessoal. Chamei-lhe de “Um por Um” e atribui-lhe regras para que me fosse mais fácil cumprir. 

Um por um. Um para um.

O objetivo do “Um por Um” é celebrar a pessoa que somos hoje, agora, tal como estamos. Sem ser preciso celebrarmos uma idade especial. Sem ter de ser porque nos vamos casar ou porque estamos grávidas. Vale a pena fotografar-te, fazer uma sessão contigo porque estamos cá. Porque estamos vivos. Porque estamos bem.

Desde maio de 2017 que todos os meses saio para a rua com uma pessoa nova. Para um local novo. Só vamos eu e ela e o local nunca se pode repetir. E, lá vamos nós. Um por um. Um para um. A saborear o passeio, a saborear a vida, a saborear quem somos. E, eu fico a meditar. A ver com atenção os pormenores daquela pessoa para quem tantas vezes olhei, mas nunca vi. A viver com calma cada recanto. A aproveitar cada raio de luz, a descobrir locais novos. Ou a descobrir locais a que sempre fui, mas que nunca visitei como ele merecia. 

Todos os meses fotografo de maneira diferente porque todos os dias estou diferente.

Tem sido dos projectos mais bonitos que tenho feito. E, também ele, o “Um por Um”, me tem ajudado a descobrir quem eu sou. Todos os meses fotografo de maneira diferente porque todos os dias estou diferente. E, tem sido uma viagem muito libertadora descobrir este meu caminho. Com ele aprendi a ter mais tempo. A ter mais calma. A disparar só quando vale a pena. A olhar. A saborear. A descobrir tanta e tanta coisa nova.

Quando estou a fotografar não penso em mais nada.

Estou ali, só com a minha verdade. E, é através da minha lente que a consigo mostrar. Que consigo mostrar a quem estou a fotografar como a vejo. Porque às vezes queria tanto que as pessoas se vissem pelos meus olhos. Que percebessem como são bonitas. E, com a fotografia consigo isso. 

Nota: Fotografias por Verónica Silva. Fotografia destaque por Diogo Rola.

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