A esperança de mil corações

Cristina Felizardo // Janeiro 9, 2021
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Diz o povo que enquanto há vida, há esperança!

Nunca um dizer foi tão bem-dito. Se me acompanhas no que defendo, no que apregoo e no que acredito, então sabes que nem sempre vou nas cantigas entoadas pela “voz do povo”. Há dizeres que, por serem tão absolutistas, tão deterministas, tão generalistas, deixam de fora aqueles e aquelas que deixaram de acompanhar aquele compasso. Seja porque não conseguem ouvir a mesma música, seja porque ficaram sem chão firme por onde marchar, seja porque a vida, simplesmente, começou a tocar outra melodia. O que é certo é que, esses e essas almas perdidas, deixaram de entender o que a “voz do povo” lhes dizia nas suas cantigas de dizeres. “Enquanto há vida, há esperança!”, dizia uma dessas almas, em tom jocoso, para outra que estava tão perdida quanto ela! “Olha, eu ainda estou viva e esperança nem vê-la!”, continuava, ao mesmo tempo que encolhia os ombros, enquanto a outra assentia com a cabeça.

De facto, manter a esperança em todos os momentos da vida não é proeza fácil. 

Que o diga eu. Que o digas tu. Que o digamos todos nós, mundo. O último ano pôs-nos à prova de maneiras que não sabia ser possível. Uma pandemia provocada por um inimigo invisível, um vírus veloz, que abalou as pedras basilares em que assentavam os valores humanitários ao impedir hábitos sociais e culturais que tanto nos definem na humanidade em nós. Avós que ficaram impossibilitados de receber aquele abraço mimoso dos netos, famílias separadas em dia de “juntar a família à mesa”, estranhos que se afastam nos passeios da rua e rostos que são vistos, apenas, pela metade. As mudanças são para nossa segurança. As recomendações são feitas por quem sabe. Mas o desafio fica para ser superado por quem está na vida. Uma vida que impediu, que separou, que afastou e que é agora vivida pela metade.

Então e a Esperança? Então onde cabe agora essa máxima que nos diz que “onde há Vida, há Esperança”?

Uma pergunta legítima feita por quem está cansado de tanta mudança que nos afastou da nossa essência de ser humano. Mas, agora, sou eu que te digo: “Escuta. Ouve o que o povo te está a dizer. Esta voz é antiga. Vem daqueles que já viveram muitas vidas antes de nós. Daqueles que aprenderam à custa dos seus próprios desafios que se a vida continuar em ti, então tu continuas capaz de encontrar esperança! Afinal, é uma atitude. E, por isso, está dentro de ti, em cada batimento do teu coração, em cada respirar do teu pulmão, em cada passo que o teu corpo dá em frente. Em cada momento que continuas vivo, poderás encontrar a tua esperança”.

E graças a ela, à esperança, os avós puderam abraçar os seus netos através de uma manga de plástico, as famílias puderam reunir à mesa com recurso às videochamadas, os estranhos puderam cumprimentar-se no passeio com um toque de cotovelo e aqueles que usam e abusam da esperança, perceberam que conseguem transmitir todo um sorriso através do olhar.

Por isso, como vês, o dizer está bem-dito. Fala a uma só voz, com a esperança de mil corações, pois no final de contas, “somos todos do mesmo jeito quando é preciso amar”. 

(…) E de um seremos mil corações

E de mil uma só voz

E de mil seremos orações

Todos juntos seremos nós

E nesse encontro perfeito

Nada nos pode separar

Somos todos do mesmo jeito

Quando é preciso amar (…)”

A Nossa Voz, de Mariza

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