A criança e as novas tecnologias

Eugénio Leite // Setembro 20, 2018
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No mês do regresso às aulas, é pertinente falar do uso das novas tecnologias pelas crianças e dos efeitos que essa utilização poderá ter na saúde visual na infância e adolescência.

Num mundo cada vez mais dominado pela tecnologia, é fácil encontrar crianças que ainda mal sabem dar o laço nos atacadores dos sapatos a navegar na Internet e a usar smartphones ou tablets. Mas, será que essa inserção tão precoce no mundo da tecnologia é benéfica para a criança? Ou é apenas uma forma que os adultos utilizam para manter a criança sossegada prescindindo da atividade turbulenta, mas enriquecedora de experiências para ela?

Um estudo realizado pela AVG Technologies no ano de 2014 com famílias de todo o mundo demonstrou que 66% das crianças entre 3 e 5 anos de idade conseguia usar jogos de computador, 47% sabia como usar um smartphone, mas apenas 14% era capaz de dar o laço nos atacadores dos sapatos sozinha.

A terapeuta Cris Rowan defende que o uso de tecnologia por menores de 12 anos é prejudicial ao desenvolvimento e aprendizagem da criança. Segundo ela, a sobre-exposição da criança a telemóveis, Internet, tablets ou televisão está relacionada ao déficit de atenção, atrasos cognitivos, dificuldades de aprendizagem, impulsividade e problemas em lidar com sentimentos como a raiva. Outros problemas comuns seriam a obesidade (menor atividade física), privação de sono (se usam as tecnologias dentro do quarto) e o risco de dependência das tecnologias para além das consequências sobre o sistema ocular.

De forma sumária, os efeitos sobre o sistema ocular podem dividir-se em dois grandes grupos:

1. Síndrome visual dos monitores das novas tecnologias

Ao olhar para um ecrã ou para um livro, o reflexo de pestanejar diminui, o que provoca uma maior evaporação da lágrima. Outra alteração dos utilizadores crónicos e prolongados (acima de 4h/dia) de ecrãs é o degradar do funcionamento das glândulas de meibomius, que existem nas pálpebras e são responsáveis pela produção do componente lipídico da lágrima. Este componente melhora a lubrificação do olho e estabiliza a lágrima reduzindo a sua evaporação. Estas duas alterações provocam sintomas de olho seco, como sejam a sensação de corpo estranho, ardor, olhos vermelhos, sensação de peso nas pálpebras, necessidade de pestanejar ou fechar os olhos.

O olhar por longos períodos para um objeto ao perto provoca no olho a necessidade de fazer esforço acrescido para focar esse mesmo objeto: a acomodação. A acomodação por períodos longos leva a cansaço ocular, provocando sintomas como visão turva temporária, dores de cabeça, dificuldade de focagem ou sensação de peso nos olhos.

2. Desenvolvimento ou agravamento de miopia

Apesar do principal fator de risco para o desenvolvimento de miopia ser a existência de histórico familiar, há fatores ambientais que se acredita terem influência no aparecimento e evolução da miopia

Nos últimos anos, a importância da exposição à luz natural como fator preventivo do aparecimento e desenvolvimento da miopia é um facto aceite e esta associação é hoje clara. Quanto menor a idade, maior a importância da exposição à luz natural. No entanto, o benefício na prevenção da miopia e na diminuição do seu desenvolvimento está demonstrada pelo menos até aos 18 anos.

Em forma de conclusão ou pelo menos como mote de reflexão, a primeira coisa que os pais devem fazer é perguntar se eles próprios não estão abusar demais dos smartphones, tablets e computadores. Não adianta nada impor regras aos filhos e dar mau exemplo. Manter o diálogo e investir em atividades familiares é outra forma de ajudar os pequenos a não se tornarem dependentes da tecnologia. Recomendando-se também a exposição à luz natural, com uma duração igual ou superior a 3 horas por dia e sempre que possível a realização de atividades ao ar livre em detrimento da utilização de ecrãs em casa.

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