Muitas pessoas continuam a ter um cancro do colo do útero, apesar de estar cientificamente demonstrado que é uma situação evitável na grande maioria dos casos. Existe a possibilidade de fazer rastreio das lesões que o antecedem e vacinas que diminuem o risco da sua ocorrência. Nas décadas de 80-90 a demonstração de que o cancro do colo do útero estava associado à infecção persistente pelo Vírus do Papiloma Humano (HPV) veio revolucionar a forma como se pensa nesta doença. Mas veio, também, gerar um receio colectivo sobre o significado e consequências desta infecção. Perceba melhor como se interligam.
9 Perguntas e respostas sobre Cancro do colo do útero e HPV:
1. O que é a infecção HPV?
Existem centenas de serotipos diferentes deste vírus que pode infectar pele e mucosas, nas mais variadas localizações. Por exemplo, na pele origina lesões que são conhecidas como “verrugas”. A nível genital está associado a lesões pré-cancerosas e ao cancro do colo do útero, da vagina e vulva. Numa percentagem menor ao cancro anal e do pénis. Pode também originar lesões genitais (benignas) cutâneas denominadas por condilomas.
2. Como se transmite HPV?
Transmite-se pelo contacto com a pele e as mucosas infectadas. No que diz respeito à infecção sexual saiba que a maioria das pessoas que são sexualmente activas, têm em alguma altura da sua vida uma infecção por HPV. Ou seja, é uma infecção frequente e não precisa ter “vergonha” se tiver.
3. O que pode acontecer depois de uma infecção HPV?
A maioria das pessoas infectadas por HPV não têm sintomas e o seu sistema imunitário liberta-se da infecção naturalmente ao longo dos dois anos seguintes ao contágio. Isto para todos os tipos de HPV.
Numa pequena percentagem de pessoas o vírus pode manter-se nas células e originar alterações celulares que ao longo dos anos podem dar origem a lesões pré-cancerosas. Que, se não forem detectadas e tratadas, podem levar a um cancro do colo do útero.
É importante reter a seguinte mensagem: ter uma infecção por HPV não é igual a ter lesões ou cancro do colo do útero. É simplesmente uma boa razão para se manter em vigilância regular. A regularidade da vigilância depende da história clínica individual e das alterações encontradas.
4. Como tratar as infecções por HPV?
O grande objectivo não é eliminar o vírus, mas vigiar ou tratar as lesões que surgem. Tratam-se as manifestações do vírus e não o vírus em si.
5. Qual a importância do rastreio no Cancro do colo do útero?
Esta é uma situação frequente em mulheres entre os 40-50 anos que é precedida por lesões que podem ser tratadas atempadamente. Existe, há décadas, um grande investimento em termos de saúde pública em fazer o rastreio do cancro do colo do útero com uma colpocitologia regular (também conhecido como o “exame papanicolau”).
Com o conhecimento actual sobre a infecção HPV e cancro do colo do útero, existem já formas de rastreio que incluem o teste de detecção de HPV de risco para cancro do colo. Ou seja, pode continuar a fazer colpocitologia ou ser-lhe proposta a realização destes testes para rastreio do cancro do colo.
Independentemente do seu sexo, do género e orientação sexual é possível contrair/transmitir uma infecção por HPV. Por isso, se tem colo de útero, estes rastreios são para si.
6. Como prevenir?
Existem vacinas que diminuem o risco de infecção por vários serotipos de HPV e por isso são uma forma de prevenção importante da infecção em geral e das suas manifestações: quer benignas, quer dos cancros do colo do útero, vagina, vulva, anal e do pénis. O uso de preservativo (interno ou externo) não é completamente protector porque as lesões podem estar em zonas não cobertas pelo preservativo.
Para prevenir o cancro do colo do útero, a vacinação contra o HPV e o rastreio regular do cancro útero (como se explicou atrás) são as melhores estratégias.
7. “Sou uma mulher e só tenho relações sexuais com mulheres. Posso ter/transmitir HPV?”
Sim, a transmissão sexual do vírus nada tem a ver com a orientação sexual, preferências ou práticas sexuais. É importante salientar esta informação porque há pessoas que acham que o risco é menor ou nulo.
8. “Pode interferir na minha fertilidade?”
A infecção por HPV não interfere na fertilidade. Ou seja, mesmo que já tenha tido ou tenha a infecção, isso não diminui a possibilidade de engravidar.
9. “Pode interferir na minha gravidez?”
Um diagnóstico prévio de infecção ou uma lesão a HPV que já tenha sido tratada, não provoca durante a gravidez um risco acrescido para si ou para a criança. Nem interfere na via do parto. Quando existe um diagnóstico durante a gravidez é importante ser observada numa unidade especializada (unidade de colposcopia) em que vão definir qual a melhor forma de vigilância e tratamento durante e após a gravidez.
Não deixe de planear a sua vigilância regular.
Se tem colo do útero mesmo que não tenha relações sexuais agora (mas teve antes) qualquer que seja o seu sexo, género e orientação sexual, não deixe de planear a sua vigilância regular.
Ajude a divulgar a informação para contribuir para diminuir este cancro potencialmente evitável.