Terapia online (TOL) – “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”
Em 2005, a Organização Mundial de Saúde (OMS) referia que: “A inovação tecnológica possibilita um acesso mais efetivo a serviços de saúde, incluindo de psicologia, sobretudo no caso de clientes que se encontrem limitados por questões de localização geográfica, condição física, restrições financeiras ou outras”.
A situação de isolamento social imposta pela pandemia covid19 gera ansiedade, stress, medo, irritabilidade, só para nomear alguns aspetos. E agora, como fazer para marcar uma consulta com um/a psicólogo/a? As consultas por esta via resultam? E como é que eu sei que a pessoa com quem estou a falar é mesmo um/a psicólogo/a?
Assim, algumas pessoas podem, neste momento, estar a pensar “tantos anos a adiar uma ida ao psicólogo e, agora que preciso mesmo, tenho de o fazer por uma via pouco convencional”. Procurarei responder a algumas dúvidas práticas que eventualmente se suscitam e, embora não seja uma lista exaustiva, creio que são as mais comuns e relevantes. Baseei-me na minha prática de terapia online há mais de uma década, bem como no texto de linhas orientadoras publicado pela Ordem dos Psicólogos Portugueses, assim como nas perguntas mais frequentes.
1. A Terapia online tem os mesmos resultados do que a terapia presencial?
Sim, a literatura científica tem publicado diversos estudos que obedecem às melhores práticas de investigação concluindo que a Terapia online é eficaz, efetiva e necessária em caso de impossibilidade de acesso a um profissional presencialmente como por exemplo: um emigrante na Alemanha, um estudante em Erasmus na Eslovénia, um habitante de uma cidade pequena em que se conhece quase todos os profissionais de saúde e que se quer manter anonimato, e mais recentemente, uma pandemia que força ⅓ da humanidade a ficar em casa.
2. Ok, a Terapia online funciona, mas eu prefiro estar com a pessoa. Se calhar para mim não funciona… Espero que tudo passe e procuro mais tarde um profissional quando for possível fazer presencialmente. Corro riscos se não o fizer já?
A Terapia online ou a terapia presencial é parecida com uma ida ao alfaiate: ajusta-se a cada pessoa. Caso sinta que vai ser uma perda de tempo talvez seja bom esperar pelo presencial. No entanto, se não se sentir à vontade em falar das suas emoções talvez valha a pena correr o risco: seja porque não tem por hábito falar do que sente, seja porque as pessoas olham para si como um baluarte – alguém que se mantem firme e, por isso, não pode mostrar parte fraca – ou, simplesmente, por causa da ansiedade acumulada que já atingiu níveis aparentemente desconfortáveis para os que o rodeiam.
3. Bom, talvez seja melhor procurar ajuda. Onde procuro esse profissional?
Um dos melhores métodos para encontrar um/a psicólogo/a com quem poderá sentir-se à vontade e num espaço de não julgamento, é falar com alguém em quem confie e que consultou um profissional com quem se sentiu bem. Essa pessoa irá dizer-lhe as percepções e resultados que viveu com aquele profissional, na ótica do utilizador. Depois de obter o contacto, procure esclarecer junto desse profissional se presta o serviço de Terapia online, quais os custos, duração de uma sessão e disponibilidade de agenda.
4. Prefiro não falar com ninguém, manter isto só para mim: como encontro um profissional?
Há muitos anúncios na Internet onde pode procurar um profissional por área geográfica, temáticas do seu trabalho e contactos. Caso não seja importante para si passar para o presencial mais tarde, pode até escolher qualquer zona do país e contactar esse profissional para averiguar as condições em que o mesmo presta os seus serviços.
5. E como tenho a certeza que a pessoa que se diz psicólogo é mesmo um profissional credenciado?
A Ordem dos Psicólogos Portugueses mantem um diretório online onde pode consultar a validade da formação científica do psicólogo, através do seu nome ou do número de cédula profissional.
6. Encontrei o profissional, já aceitei as condições que me apresenta, marquei a consulta. O que posso esperar?
Pode esperar uma conversa com uma “pessoa normal”. Coloco as coisas nestes termos porque após anos a perguntar, no final da primeira sessão, como é que a pessoa se sentiu ali comigo, oiço muitas vezes isto: “afinal foi uma conversa normal”. Costumo brincar e perguntar se a pessoa esperava encontrar alguém com uma trombinha.
Em muitas correntes teóricas debate-se se se deve dar mais importância ao passado, ao presente, às palavras, às sensações no corpo, entre outros aspetos. No entanto, o objetivo principal é estabelecer uma relação de confiança com o profissional para que ele o ajude a encontrar a autonomia necessária para ser aquilo que é ou quer ser, melhorando a sua capacidade de lidar consigo próprio – autorregulação – ou no relacionamento com o que o rodeia – corregulação.
7. Quais são as regras deontológicas pelas quais um profissional em meio Terapia online se rege?
A Terapia online não altera a obrigatoriedade de cumprimento dos princípios e orientações éticas da profissão pelo que, também neste domínio, as/os psicólogas/os devem respeitar o Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
8. Existe algum aspeto que seja específico na Terapia online?
Sim, o pedido para assinar um consentimento informado, ou seja, que aceita as seguintes condições: “o preenchimento de um Consentimento Informado, que inclua informação detalhada sobre o registo e manipulação da informação obtida, explicitação de aspetos relacionados com a tecnologia, clarificação da importância de o cliente estar num espaço privado assegurando não ser interrompido, bem como as condições de faturação dos serviços prestados e meios de pagamento, quando aplicável”.
9. De quantas sessões preciso e com que regularidade tenho de as fazer para ficar bem?
Depende muito dos seus objetivos, da disponibilidade financeira ou de tempo. Caso pretenda falar com alguém de confiança numa perspetiva de ventilar ansiedade acumulada, podem ser necessárias poucas sessões, espaçadas no tempo. No entanto, se já se encontra muito alterado, ansioso, com dificuldade em dormir, choro fácil, irritabilidade – só para mencionar alguns sintomas -, pode precisar de estratégias de relaxamento, reestruturação de pensamentos, tempo para deixar fluir os sentimentos. Esta elevada ativação emocional carece de mais sessões, ao longo do tempo, com consultas regulares.
Descanse que não estamos a falar de anos infindos de terapia para se obterem resultados. Falar num espaço sentido como seguro, com aprendizagem de estratégias de gestão de pensamentos e emoções proporciona alívio, bem-estar e autoconfiança em alguns meses. Aspetos absolutamente necessários no panorama atual e nos meses vindouros quando recuperarmos a nossa autonomia social. Precisamos de força e serenidade, e um profissional de saúde mental pode ajudar.
A Terapia online é um pouco como a coca-cola nas palavras de Fernando Pessoa: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”. Afinal, o que tem a perder?