Como se não bastasse o facto de as relações já serem desafiantes em si mesmas, as redes sociais vieram baralhar-nos ainda mais. Há quem jure a pés juntos que o Facebook, o Instagram ou o Whatsapp só servem para prejudicar as relações e há quem defenda que as redes sociais podem melhorar os relacionamentos. Quando falamos de relações e redes sociais, quais são os mitos e as verdades?
1. As redes sociais facilitam a infidelidade e o divórcio.
Verdade.
As redes sociais facilitam (muito) a troca de mensagens íntimas com várias pessoas, mesmo quando estamos numa relação de compromisso. O facto de estarmos atrás de um ecrã cria uma falsa sensação de segurança e potencia a partilha de emoções que mais dificilmente mostraríamos a algumas pessoas em modo presencial. Quanto mais tempo passamos online, maior a probabilidade de haver uma relação extraconjugal. Alguns estudos sugerem que as redes sociais podem ser uma ameaça para as relações românticas. O vício das redes sociais está diretamente relacionado com comportamentos que se encaixam na infidelidade emocional – “sexting” (partilha de mensagens com conteúdo erótico), jogos de sedução, partilha de pensamentos íntimos – e que são percursores da infidelidade física.
2. As redes sociais melhoram as relações.
Verdade, mas…
As redes sociais vieram melhorar as nossas vidas, aproximando-nos das pessoas de quem gostamos, mesmo quando estamos fisicamente distantes. Nunca como hoje foi tão fácil aceder a uma multiplicidade de informações, quer sobre o(a) nosso(a) companheiro(a) romântico(a), quer sobre os nossos amigos e familiares. Há avós que acedem diariamente às fotografias dos netos através de plataformas como o Facebook e o Whatsapp. Há casais enamorados que utilizam as redes sociais para mostrar apoio, para seduzir ou simplesmente para partilhar notícias ou páginas de internet e, assim, conseguem dizer «Lembrei-me de ti». Há amigos de infância e ex-colegas de escola espalhados pelo mundo com quem se tornou possível voltar a conviver diariamente, ainda que no plano virtual. E há muitas pessoas que se sentem muito menos sós desde o aparecimento destas plataformas. Mas todos sabemos que o facilitismo das redes sociais também nos pode deixar mais preguiçosos, mais habituados a receber notícias através das redes e menos competentes no que diga respeito à vida real.
As redes sociais podem ajudar a melhorar as nossas relações, mas apenas na medida em que não deixemos de mostrar interesse genuíno pelas pessoas de quem gostamos fora das redes, respeitemos os limites da nossa relação amorosa e não façamos escolhas que não faríamos se a pessoa de quem gostamos estivesse a olhar para nós e não tomemos a montra das redes sociais (cheia de filtros bonitos) como uma amostra das vidas perfeitas dos outros.
3. É importante dosear o tempo que passamos nas redes sociais.
Verdade.
Não é só uma questão de evitarmos viciar-nos na gratificação imediata, nos jogos de sedução e nas ameaças à fidelidade. A nossa atenção é limitada. Quando nos sentamos ao lado de alguém de quem gostamos muito – seja o nosso amor, um familiar ou um(a) bom amigo(a) – sem desviar o olhar do ecrã do telemóvel, estamos a mostrar que ele(a) não é assim tão importante para nós, não merece a nossa atenção plena. Mas há mais: quando estamos permanentemente conectados às redes, tendemos a sentir-nos mais agitados, mais pressionados, mais irritáveis, mesmo que nem sempre percebamos porquê.
Sermos capazes de desligar das redes sociais ao final do dia pode produzir milagres pelo nosso bem-estar individual e pelas nossas relações.
4. As redes sociais mostram o pior de cada um.
Mito.
Qualquer passagem breve pelas caixas de comentários de grandes contas de Facebook ou de Instagram pode revelar-se um autêntico terror. Não sei quanto a si, mas eu dou por mim a pensar que há comentários que eu teria vergonha de mostrar aos meus filhos. Sim, é absolutamente verdade que algumas pessoas aproveitam o facto de estarem atrás de um ecrã para destilar veneno e dizer as maiores barbaridades. Essa é uma forma de sentirem que têm poder. E pode ser profundamente viciante. Mas isso está muito longe de significar que as redes sociais só mostram o pior de cada um. Pelo contrário, se mantivermos a nossa curiosidade ativa, vamos dar-nos conta de que as redes sociais também estão recheadas de bons exemplos, de gestos de gratidão, de entreajuda e de compaixão. Vamos reparar no facto de haver quase sempre alguém que, a propósito de uma publicação que denote tristeza ou preocupação, se apressa em agarrar no telefone para perguntar se está tudo bem.
5. As redes sociais estão a substituir as relações presenciais.
Mito.
As redes sociais podem ajudar-nos a mostrar o que sentimos por outras pessoas, mas estão longe de ser a via através da qual o consigamos fazer de forma clara. Não há nada que bata uma conversa cara a cara, o toque e o abraço que podemos acrescentar a alguém de quem gostamos que esteja a passar por uma dificuldade ou o sorriso e o “hi5” quando celebramos uma conquista. Não há forma mais eficaz de dizer «Gosto de ti» ou «És importante para mim» do que o modo presencial. Nenhum comentário nas redes sociais chega aos calcanhares de um telefonema. E, seguramente, nenhuma queixa ou desabafo sobre as nossas relações íntimas deveria ser feito em público. Tome nota: jamais se queixe do comportamento da pessoa de quem gosta no Facebook ou no Instagram. Não mande indiretas à espera que ele(a) entenda o recado. A única coisa que vai conseguir é que ele(a) se sinta humilhado(a).
6. A vida é mais rica e preenchida sem redes sociais.
Mito.
Há quem defenda que só é possível apreciar a vida e saborear as nossas relações se nos mantivermos longe das redes sociais, mas isso não corresponde à verdade. Abdicar das redes sociais implicaria andar para trás no tempo e ter menos canais de acesso às pessoas de quem gostamos. Como é bom tirar uma fotografia a meio das férias e partilhá-la com familiares e amigos de forma instantânea! Como é bom ler os seus comentários a dizer «Aproveita! Tu mereces». Como é bom poder saber em tempo real que um amigo conseguiu passar no exame para o qual estudou arduamente. Como é bom poder dizer «Gosto de ti» de mil e uma formas diferentes.
Estar longe das redes sociais até pode permitir que não tenhamos o nosso cérebro permanentemente inundado de estímulos e solicitações, mas também implica que estejamos mais desconectados de muitas pessoas que são importantes para nós.
7. As pessoas não dizem a verdade nas redes sociais.
Mito.
Já todos nos demos conta de que há muitas pessoas que assumem uma “persona” nas redes sociais, muito diferente daquilo que são na realidade. Há famílias que parecem perfeitas nas fotografias estilizadas das redes e que cá fora andam permanentemente de costas voltadas, há quem anuncie um amor que nunca mais acaba nas redes e que na vida real seja infiel, e há quem faça propaganda a comportamentos que nunca teve na vida. Paralelamente, passámos a ser inundados de mensagens publicitárias nas páginas de personalidades que admiramos e que têm contribuído para um certo sentimento de desconfiança. Quando, de repente, todas as figuras públicas que seguimos nas redes passaram a utilizar o mesmo detergente ou a beber o mesmo sumo, sentimo-nos ludibriados e obrigados a ativar o nosso sentido crítico. Mas não vale a pena tomar o todo pela parte e ignorar as múltiplas demonstrações de que é possível ser autêntico nas redes sociais. Nas redes sociais, como na vida cá fora, a confiança é algo que se constrói gradualmente e que depende muito da coerência ao longo do tempo, de alguns “testes” e saltos de fé. Não vale a pena achar que toda a gente está presente nas redes sociais com boas intenções, mas também não é inteligente diabolizar estas plataformas de comunicação.
8. Colocar muitos “gostos” é sinónimo de interesse romântico.
Mito.
A forma como nos comportamos nas redes sociais é quase sempre um reflexo daquilo que somos cá fora. Claro que há quem cometa mais erros nas redes, sobretudo na medida em que desconheça as regras do jogo e se deixe levar pela impulsividade.
Já reparou como é fácil colocar um “gosto” numa fotografia ou noutra publicação qualquer? Já reparou que há pessoas que colocam “gosto” em praticamente todas as publicações? Quantas vezes colocou um “gosto” numa publicação sem ter gasto mais do que um ou dois segundos a olhar para ela? Há uma gratificação associada ao número de “gostos” e comentários nas redes sociais, mas é fundamental que não nos deixemos deslumbrar por isso. Na maioria das vezes, um “gosto” é um gesto automatizado que não traduz particular interesse ou atenção. Assim, não vale a pena alarmar-se só porque a pessoa de quem gosta colocou um “gosto” numa fotografia de alguém do sexo preferencial. Fale abertamente sobre aquilo que sente e mostre aquilo de que precisa. Quando nos mostramos inseguros ou vulneráveis – sem atacar a outra pessoa – damos oportunidade a que ele(a) mostre que se importa com os nossos sentimentos e nos devolva a segurança de que precisamos. Se isso não acontecer, então, sim, temos motivos para nos preocuparmos.
9. Não é saudável ser amigo(a) do(a) ex nas redes sociais.
Mito.
Sim, é verdade que algumas infidelidades acontecem entre ex-namorados. Quando mantemos uma relação de proximidade nas redes com alguém com quem já partilhámos a intimidade, é mais provável que se crie uma falsa sensação de que do outro lado do ecrã está alguém que nos compreende ou que nos valoriza mais do que a pessoa que está ao nosso lado. Mas para que isso aconteça é preciso que estejamos a cometer outros erros, nomeadamente o de não comunicar abertamente com a pessoa que amamos. Se o(a) nosso(a) Ex é uma pessoa que passou a fazer a parte do nosso círculo de amigos e já não houver sentimentos românticos de nenhum lado, não há nada de errado em manter a ligação virtual. Se essa ligação implicar a troca de mensagens que jamais gostaríamos que o(a) nosso(a) companheiro(a) visse, então o caso muda de figura e é provável que estejamos a resvalar para a infidelidade emocional.
10. Bloquear o(a) ex ajuda a ultrapassar o fim da relação.
Verdade.
Um desgosto amoroso é quase sempre devastador. Quando somos “rejeitados” e ainda temos sentimentos românticos, ou quando tomamos a iniciativa de romper mas ainda estamos magoados, é tentador continuar a vasculhar o perfil do(a) nosso(a) Ex nas redes sociais. Algumas pessoas vão ao ponto de se martirizar várias vezes por dia para verificar quando é que a outra pessoa está online, se está online ao mesmo tempo que outras pessoas, etc. Estes comportamentos são profundamente desgastantes e atrasam o processo de luto.
Bloquear o(a) Ex nas redes sociais não é um ato de vingança ou de ressentimento. Muitas vezes é um gesto de amor-próprio e de respeito pelos seus sentimentos. É assumir que o fim de uma relação é difícil para todos e que o afastamento o(a) pode ajudar a recuperar a paz.
11. Os casais felizes não mostram o seu amor nas redes sociais.
Mito.
Perdi a conta ao número de vezes que li ou ouvi frases como «Os casais felizes não mostram o amor nas redes sociais». Percebo de onde vem esta ideia: há muitas juras de amor que têm tanto de delicodoces quanto de vazias. Há pessoas que anunciam diariamente o amor que sentem pelo(a) companheiro(a) e que são incapazes de o(a) tocar, de mostrar um gesto de afeto. Mas isso não significa que os casais apaixonados tenham de ser todos ultra reservados. Nas redes sociais, como na vida cá fora, há quem se sinta confortável com as manifestações públicas de afeto e há quem assuma uma postura mais resguardada.