Estamos numa fase em que as famílias têm menos recursos financeiros. Mas os nossos filhos continuam a pedir presentes, brinquedos, roupas novas… “Quero isto… Quero aquilo… Oh mãe, vá lá… Quero mesmo, mesmo…” Estás nesta situação? Então este artigo é para ti.
Parece que só sabem abrir a boca, para dizer “quero”. Por isso, está na hora de ensinar aos doces pestinhas, o verdadeiro valor do dinheiro.
Qual é o valor do ordenado mínimo?
Começa por fazer o seguinte teste: pergunta ao teu filho qual o valor do salário mínimo.
Há uns dias, uma das minhas pacientes, de 12 anos, dizia-me: “Bárbara, não percebo, a minha irmã fez uma festa porque a aumentaram para 1000€”. Quando lhe perguntei se sabia quanto era o ordenado mínimo respondeu: “Deve ser aí 2000€”. Pois é… Mais tarde partilhou que o ordenado do pai ronda os 10 mil euros e que pensava que isso seria o normal. Ficou boquiaberta quando lhe disse que o ordenado mínimo é 635€ e questionou-se: “Como as pessoas vivem só com isso?”.
Eles não têm culpa de não ter noção do verdadeiro valor do dinheiro. Mas e nós?
Estamos a passar bem a informação?
Somos nós, adultos, os agentes de transformação. É importante, que desde pequenos lhes passemos a mensagem de quanto custam as coisas, de que temos de trabalhar para conquistar o que queremos e que dinheiro não vem do multibanco, nem das árvores.
Um dia, o meu filho mais novo disse “Oh mãe, podes comprar podes. É só ires levantar ao multibanco!”, ao que lhe perguntei: “E como achas que o dinheiro vai parar lá?”. Respondeu: “Não sei”. Pensei que seria uma ótima altura para lhe explicar que somos nós que pomos lá o dinheiro e que isso acontece porque o ganhamos com o esforço nosso trabalho.
Podemos e devemos mostrar que não trabalhamos só para ganhar dinheiro, mas que trabalhamos para alcançar os objetivos que tanto queremos (ética do trabalho). Podemos rematar com o senso de realização, com a ideia de que, se gostarmos daquilo que fazemos, ainda é mais prazeroso, e que a vida se torna mais fácil.
Podes começar por explicar o que é salário. Conta a história do nome “salário”, estar associada ao sal, que seria a moeda de troca na altura.
O “não” é crucial.
As crianças e adolescentes não precisam de ter tudo o que querem. O “não” é crucial aqui. Os miúdos têm de aprender a lidar com frustração e valorizar aquilo que conquistam. Assim vão dar muito mais valor quando a conseguirem ter.
Muitos deles, em consultório partilham o seguinte: “Eu sei que os pais trabalham muito para me dar os ténis e a roupa que gosto, mas preferia que trabalhassem menos, preferia ter menos coisas, mas mais atenção deles”. Isto faz-nos pensar: “Então qual o valor do dinheiro se os nossos filhos o que querem é amor, colo e atenção? Valerá a pena viver no stress em que vivemos? Já lhes pedimos opinião?”.
O que é verdadeiramente importante: ter ou ser/fazer?
Para mim mais importante que ter, é ser, é fazer. As experiências, os passeios, os momentos bem passados ficam para sempre na memória, enquanto que os quatro pares de ténis no próximo ano já não servem ou ficam de lado porque estão fora de moda.
Com os meus filhos tenho uma frase que nos acompanha: “Queres? Ou precisas?”. É diferente precisar de umas calças, uns calções, do que querer três pares de ténis iguais, um de cada cor.
Lembro-me de uma adolescente que entrou no meu gabinete, há cerca de 1 ano, a fazer uma birra gigante. O pai não lhe queria dar o IPhone X. Eu ouvi atentamente, quando terminou a lamúria e disse-lhe também a choramingar: “Não acredito! Eu queria tanto um Jeep e o meu marido não me dá. É injusto! Ele também tem!”. A menina olhou para mim e disse: “Tens razão Bárbara, é ridículo, não é?”.
Sei que cada família tem as suas regras, as suas opiniões, mas pensem que as nossas crianças são os futuros homens em consciência. Aquilo que vão comprar, usar, gastar, poupar e como vão respeitar a moeda.
É uma realidade, as nossas crianças e nós também, somos consumistas. Então, como ensinar os nossos filhos a darem valor ao dinheiro? Conduzindo conversas com as dicas que te deixo. Não é fácil, mas é um caminho necessário.
10 dicas para ensinar os nossos filhos a darem valor ao dinheiro:
- Começar por perguntar o que sabem sobre o dinheiro – como se consegue, o que se tem de fazer, qual o valor das necessidades básicas e despesas fixas;
- Dar mesada e explicar qual o papel deles na família – que têm apenas de estudar (que esse é o trabalho deles) para ter a mesada;
- Mostrar que não podemos gastar mais do que aquilo que recebemos;
- Ensinar a escolher, comprar e/ou poupar. A tal dica do “queres ou precisas?”;
- Não comprar por impulso, nem comprar o desnecessário;
- Explicar que tudo tem um preço. Não podemos ter tudo, mas se priorizarmos conseguimos o que é de facto importante para nós;
- Fazer com eles a lista das compras de supermercado e estimativa de quanto gastamos;
- Ajudá-los a fazer pequenos orçamentos para que percebam que se querem algo, têm de poupar na semanada ou mesada;
- Passar a regra de que devemos sempre poupar;
- Mostrar que primeiro devemos honrar as obrigações, despesas e eventuais surpresas, depois, sim, podemos brincar e divertir.
Assim, vamos conseguir preparar as novas gerações a ter uma relação saudável com as finanças pessoais. Lembra-te: começar cedo, pode evitar problemas graves quando forem adultos, ou, pelo contrário, incentivar a que tenham uma vida financeira mais equilibrada.