Sim, as emoções interferem.

Ana Bispo Ramires // Junho 13, 2018
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Dizem-nos os estudos mais recentes das neurociências que um atleta de alto rendimento, para poder atuar desempenhos de excelência, necessita de um córtex pré-frontal que, também ele, evidencie performances superiores – e, isto treina-se.

De facto, é nesta localização cerebral que operam o raciocínio, a resolução de problemas, a compreensão, o controle de impulsos, a criatividade e a perseverança. Estas funções, denominadas Funções Executivas, são necessárias quando temos que nos concentrar e pensar, usar a nossa memória de trabalho de curto prazo e pensar antes de reagir em qualquer situação – tudo isto, muitas vezes, em hiatos de segundo.

Para serem bem sucedidos, os atletas (e treinadores!) são obrigados a tomar e executar decisões de forma muito rápida, o que só pode acontecer através de competências mais evoluídas de percepção, antecipação e processamento de informações que, consequentemente, melhorarão a sua velocidade de jogo.

A importância do treino físico e mental

O treino deste tipo de funcionamento cognitivo, nos atletas de futebol, opera-se pela exposição ao treino físico e mental (o qual não especificaremos aqui), uma vez que o desenvolvimento da sua aptidão física condiciona, naturalmente, e de igual forma, o seu funcionamento cognitivo (modificando o funcionamento e aumentando o número de neurónios) – atletas de futebol mais aptos fisicamente tornam-se também mais ágeis em termos de processos cognitivos.

Perceção, capacidade espacial, julgamento, memória de trabalho, reconhecimento de padrões, reflexos, tempo de reação, experiência, capacidade de antecipação, capacidade de manter atenção sustentada durante um período de tempo (concentração) são, por isso, fatores determinantes de sucesso.

Isto, se estivéssemos a falar, em exclusivo, de um contexto laboratorial. E, um Campeonato Mundial de Futebol, é tudo menos “laboratório” – sendo-o, paradoxalmente, quando queremos estudar estes mesmos processos, sob interferência de processos emocionais de elevada, e às vezes até sobre-humana, intensidade. Porque, de facto, as emoções interferem.

Sim, as emoções também interferem.

Se, por um lado, uma competição como um Mundial ou um Europeu, partilham de algumas semelhanças que acabam por colocar as diferentes seleções quase em “pé-de-igualdade”, como sejam a estrutura competitiva, o local da competição, o contexto de estágio, o clima meteorológico a que vão estar sujeitos, a fase da época, os possíveis níveis de cansaço e o aumento de risco de lesões que, por si só, e numa fase em que atletas, treinadores e staff já possuem um manifesto nível de desgaste, exigem já elevada (e rápida) capacidade de adaptação, por outro, há sempre um conjunto de (determinantes) pormenores que, muito frequentemente, determinam a sua diferença e o seu desenlace. Refiro-me, à ‘história’ que transporta – em boa verdade, à forma como esta “contamina” (positiva ou negativamente) o clima emocional/motivacional de uma equipa.

E, que ‘história’ transporta a nossa Seleção?

São várias as ‘histórias’ que a nossa Seleção Nacional de Futebol transporta.

A ‘história’ de cada Treinador, Preparador Físico, Médico, Fisioterapeuta, Dirigente, Assistentes de Equipamento, Cozinheiros e todo o staff que, de uma forma ou de outra, no exercício da sua função (da sua performance) procura dar o melhor de si, para que os outros também o possam fazer – estes, quase sempre, os “invisíveis” da Seleção.

A ‘história’ de uma Equipa.

Necessariamente, o desafio que se impõe, é um desafio de identidade.
Quem é esta Seleção? Caras conhecidas que já não se encontram, caras novas que chegam.
A vivência (pela primeira vez) de um estatuto de favorito e campeão europeu – um campeão europeu que, no momento mais determinante, se assumiu sem o seu jogador de maior renome o que, necessariamente, poderá ter alterado a própria dinâmica da equipa, ajudando dividir as responsabilidades com maior equidade e responsabilidade.

A ‘história’ de cada Atleta.

Por razões de natureza variada, nas recentes semanas o futebol nacional tem protagonizado fenómenos perfeitamente desnecessários, atípicos e inimagináveis – deles foram vítimas atletas, treinadores, staff e, em última análise, todo e qualquer adepto que se mova com fair-play e integridade.
Impossível conceber que todo e qualquer atleta não esteja, neste momento, sob influência destes mesmos fenómenos – o que falta saber, é que recursos terão para os integrar como alavanca de superação?

Contudo, e em boa verdade, da história pregressa há que colher a energia, a força e os argumentos que ajudarão esta Equipa e reinventar-se, agora num patamar superior de excelência. Mas, o mais importante… o mais determinante, será focar as atenções na história que se vai querer contar no final da prova.

Palavra-chave: Resiliência

Curiosamente, é um termo que vem da Engenharia e, em traços latos, diz-nos a capacidade que certos materiais têm para, face ao “embate”, retornar a forma original ou, já em Psicologia, aproveitar o “embate” para nos reerguermos para um patamar superior de performance.

Será este Mundial, a próxima história de Resiliência?
Tem todos os argumentos para o ser… até porque, até tem um Engenheiro no “leme”.

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