O papel cultural da Mulher: Uma Maioria Silenciosa

Ana Bispo Ramires // Março 8, 2017
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No dia 8 de Março de 1908, apesar do mau tempo, milhares de mulheres – operárias de fábricas – foram às ruas do centro de Nova York para declarar seu protesto contra a injustiça e a desigualdade entre mulheres e homens, em contexto laboral.

Este é um dia que tem sido, desde sempre, comemorado como um dia de reconhecimento ao movimento que estas mulheres, contra tudo e contra todos, lançaram na defesa de direitos iguais no trabalho.

Desde então, muitos têm sido os investigadores que têm dedicado o seu trabalho a avaliar a expressão deste fenómeno nas diferentes sociedades e, invariavelmente (ou quase), as conclusões são quase sempre as mesmas:

Na generalidade dos países, as mulheres encontram-se em maior número, possuem maior frequência escolar, têm melhor performance académica… contudo, auferem salários inferiores, candidatam-se menos a posições de chefia, ocupam menos lugares de topo e, por essa razão, têm menor capacidade de decisão e de interferir no rumo das coisas (tema este, sobejamente discutido na “Grande Conferência Liderança Feminina”, organizada pela Executiva, em Novembro de 2016).

Esta é, sem dúvida, uma questão de direitos humanos mas, é também, uma “história” de confiança, de empatia, de escolha, de solidariedade e de capacidade de trabalhar em equipa.

É também uma história de “educação de género”, que faz lembrar o conto de Jorge Bucay sobre o “elefante acorrentado” e sobre o espanto de um menino que não compreendia como um animal tão poderoso, poderia escolher ficar uma vida preso a uma pequena estaca.

Na realidade, este conto é uma fantástica metáfora, no que respeita às “correntes psicológicas” que nos são colocadas desde a infância e que, reagindo sempre de forma condicionada e numa aceitação abnegada, acabamos por nunca questionar ou desafiar quando somos já adultos.

Sim, é um facto que, tradicionalmente, a cultura de género ensina coisas diferentes a homens e mulheres e que esta “educação”, para além de uma série de vantagens “competitivas” (porque também as há, por exemplo, a capacidade superior inteligência emocional, de organização, de multitasking ou de focar na tarefa que, genericamente, as mulheres têm mais elevadas), na realidade, não beneficia a estruturação da confiança, a proatividade ou a vontade de assumir e liderar projetos.

Mas, na realidade, quanto mais tempo será necessário passar para que nos continuemos a queixar da herança, em vez de transformar a adversidade numa prova a superar.

Há, no entanto, 3 “enormes” (ou talvez não) barreiras a superar:

– a educação que damos aos nossos filhos/jovens para a igualdade (de género ou outras), educando no sentido da igualdade de oportunidades, educando desde cedo a respeitar toda e qualquer diferença;

– a da minha relação comigo própria, aceitando que me devo desafiar e que devo AGRADECER a HERANÇA que TRANSPORTO mas, ao mesmo tempo, LUTAR para CONQUISTAR IGUALDADE de OPORTUNIDADES… e isto faz-se, escolhendo PARTICIPAR, escolhendo INTERVIR, ACREDITANDO que o MEU VALOR AJUDARÁ a DIFERENCIAR POSITIVAMENTE a EFICIÊNCIA do meu trabalho e da minha equipa.

– a minha relação com OS OUTROS, a minha capacidade de empatia e de trabalhar em equipa… e, acima de tudo, a minha SOLIDARIEDADE com o FEMININO…

 

Aqui sim, e talvez de uma forma provocatória, acredito que esteja uma das maiores diferenças entre os géneros:

Tendencialmente, porque mais focadas no exercício da sua tarefa, as mulheres vivenciam muito pouco a gigante alavanca que uma equipa pode ser e têm, muitas vezes, muito mais dificuldade em ultrapassar as diferenças individuais em prol da missão do grupo.

Fazem-no, sem dúvida, em situações de crise, de forma reativa e não proativa e, ainda assim, com elevadíssimos níveis de eficiência!

As mulheres precisam, antes de mais, acreditar que passar do estatuto de “maioria silenciosa” para uma “maioria a uma só voz”, implica entrega, vontade de resolver diferenças, aceitação e espírito de missão, naquilo que é a defesa dos seus direitos.

Até porque, é isso mesmo que a HISTÓRIA nos ENSINA:

O Dia 8 de Março, como dia de defesa de direitos humanos, só existe porque um grupo de mulheres se uniu e defendeu uma causa comum e é a força dessa união que, todos nós (homens e mulheres), precisamos recordar e integrar na nossa existência… coisa que ainda não fazemos, de forma natural e sistematizada. 

(nota: tendencialmente, na sociedade atual, as características de género não são já tão discrepantes, sendo comum encontrar muitas mulheres com competências outrora apenas reconhecidas aos homens – ex: competitividade, liderança – e vice versa). 

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