Contratempos, Frustração e Vulnerabilidade: Uma Oportunidade de Transformação

Ana Bispo Ramires // Fevereiro 13, 2017
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O tema dos “contratempos” (obstáculos) aos nossos objetivos merece um pouco mais de aprofundamento.

 

Na realidade, a existência de um contratempo na direção de algo que desejamos, cumpre um de dois objetivos:

  • testar a nossa convicção, por outras palavras, se queremos efetivamente ou se “gostaríamos de querer” aquela mudança (logo, não estamos ainda no “ponto certo” para esta tomada de decisão), e (o que me interessa hoje)…
  • confrontarmo-nos com uma emoção base (e poderosíssima) que, hoje em dia, por razões diversas, nos é muito difícil lidar com: a Frustração.

 

A diferenciação que tendemos a fazer, na nossa cabeça, entre “emoções boas” (ex: alegria) e “emoção más” (ex: tristeza, raiva, frustração…), em nada ajuda à nossa vontade em aceitar a (necessidade da) sua existência na nossa Vida.

Este facto, naturalmente, encontrou terreno fértil numa imensidão de literatura relacionada com o tema da “felicidade” que, por esta razão, ganhou uma gigantesca lista de adeptos… potenciando, exponencialmente, uma imensa multidão de pessoas “adictas” à dita “experiência de Felicidade”… de preferência, de forma rápida e indolor.

Cientificamente falando, e usando uma analogia, na realidade, é como se estivéssemos a criar “uma crosta falsa” porque, ao escolhermos não lidar com as nossas emoções negativas, perdemos toda e qualquer possibilidade de reconhecer a sua origem e, com algum trabalho, anular o poder que irão ter sempre em nós – através de um sem número de pequenos boicotes que vamos atuando no nosso dia-a-dia… e que nos afastará, inevitavelmente, do nosso “projeto ideal de Vida” (seja lá o que isto for…).

Em suma, o potencial de desenvolvimento pessoal (e, já agora, profissional) e transformação, reside efetivamente em fazermos o contrário do que tem sido sobejamente “apregoado”:

No reconhecimento e integração das “emoções negativas” na nossa existência, ao invés de procurar 345 experiências (perdoem-me a comparação mas, poderiam ser entendidas como “doses”) que nos “afastem” dessa mesma vivência.

Neste enquadramento, o CONFRONTO com um CONTRATEMPO ativa, muitas vezes, a FRUSTRAÇÃO de SENTIRMOS que NÃO ESTAMOS a SER CAPAZES de ATINGIR ALGO que DESEJAMOS e com o qual, entendemos que, iremos ser mais felizes.

Inicialmente, a nossa tentação será “fazer de conta” que não era assim tão importante e, neste capítulo, todos somos “hiper-competentes” em arranjar uma panóplia de justificações e argumentações cujo propósito único será… estancar a dor.

Muitas vezes… demasiadas vezes, vestimos a “pele” daquele super-herói para, tal qual um lindíssimo pavão, demonstrarmos ao exterior o quão forte somos e que iremos rapidamente superar a situação… muitas vezes, mais do que preocupados com o nosso bem-estar, focamos na avaliação que o meio fará de nós… e achamos, erradamente, que a demonstração de “fragilidade” será sinal de fraqueza…

Demasiadas vezes também, e até de forma perversa, o meio social que nos acompanha, faz uma gigantesca ovação a tal exuberância de “poder” (porque, paradoxalmente, também quer acreditar que será assim…)… ao invés de “nos agarrar”, dizendo um simples: “Estou a ver-te… e estou aqui.”

Bom mas, que dor é esta?

A sua origem é, realmente variada e, por esta razão, deve ser alvo da nossa (da sua) atenção.

As experiências negativas (insucessos, erros, objetivos não alcançados, entre outros) geram, por esta razão, uma série de emoções e sentimentos que receamos, de forma quase aterrorizada, que se apoderem de nós: tristeza, embaraço, culpa, rejeição, humilhação e a sensação de perda, acompanhadas por uma gigante sensação de perda de controlo sobre a situação (a sensação de nada poder fazer).

Curiosamente, e como costumo brincar com os meus clientes, ao não lidarmos com elas… elas começam, lentamente, “a fazer uma tendinha” dentro de nós ou, por outras palavras, a ganhar espaço, dimensão e recorrência.

Afinal, a expressão das nossas emoções negativas (entenda-se da nossa vulnerabilidade ou, como prefiro, da nossa HUMANIDADE) permite-nos “dar-lhes corpo”, “olhar” para elas e, como refere uma fantástica autora que tem estudado exaustivamente as questões associadas à expressão da nossa fragilidade (Brené Brown):

“A vulnerabilidade é o berço do amor, da pertença, da alegria, da coragem, da empatia e da criatividade. É a fonte de esperança, empatia, responsabilidade e autenticidade. Se quisermos uma maior clareza em nosso propósito ou em vidas espirituais mais profundas e significativas, a vulnerabilidade é o caminho “.

Ana Ramires

ana.bispo.ramires@anabisporamires.com
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