Como proteger o mar dos nossos óleos alimentares usados?

Equipa Planetiers // Agosto 2, 2018
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Lembras-te daquele óleo alimentar que utilizaste nas filhós do Natal, naqueles croquetes na festa de anos do teu amigo ou mesmo naquela dose de batatas fritas que os teus familiares tanto gostaram? O que fizeste com ele? Se a tua resposta é “ralo”, pia, lavatório ou lixo comum, precisas urgentemente de ler este artigo!

Os óleos vegetais fazem parte da nossa vida e já há muito tempo que convivemos com eles nas mais diversas áreas. Com propriedades que lhes dão grande resistência a altas temperaturas, são utilizados maioritariamente nas nossas cozinhas, em pintura, lubrificantes, cosméticos, iluminação e até mesmo em combustível (biodiesel).

Mas, porque não posso deitar óleos alimentares no esgoto? 

Para além das consequências previsíveis de colocar matérias gordas nos canos da tua casa – provocando o aumento do risco de entupir a canalização e aparecimento de pragas -, estes óleos têm um impacto gigante e negativo, tanto nas ETAR’s como no ambiente, mares e solo.

Nas ETAR’s, estes óleos alimentares são responsáveis pela obstrução dos seus filtros, tornando o tratamento de águas um processo bem mais moroso, complicado e caro (para os cidadãos).

Quem nunca ouviu a expressão: “A verdade e o azeite vêm sempre ao de cima”? Tal como o azeite, também estes óleos usados não se misturam com a água e, por apresentarem uma densidade menor, acabam por subir e criar uma camada à tona das águas dos nossos mares.

Em certas condições, em muitas praias e zonas de água parada, conseguimos ver áreas mais brilhantes à superfície da água com uma aparência “oleosa” (tipo sabão) – muito possivelmente são resíduos alimentares daquela dúzia e meia de rissóis que se comeu a semana passada ao jantar. Esta camada, quase imperceptível, para além de desagradável para quem utiliza a água, tem um impacto gigante nos ecossistemas e espécies marinhas.

As consequências são muitas:

  • Impossibilita os raios solares de alcançarem as algas no fundo dos mares, reduzindo a sua fotossíntese (estas algas são cruciais na alimentação de muitas espécies e equilíbrio dos ecossistemas marinhos);
  • Impede a passagem de oxigénio do ar para a água, essencial a muitas espécies;
  • É responsável pela morte de muitos animais, tanto por asfixia ao nível da presença destes óleos nas brânquias dos peixes, como por intoxicação de aves aquáticas.

Tudo bem, mas seriam necessários muitos litros de óleo para contaminar o oceano…”

Aí está um dos fatores que torna este um dos maiores inimigos dos nossos mares. Um litro de óleo alimentar deitado no lavatório, depois de todos os impactos na rede de esgotos e tratamento de águas, consegue ser responsável por contaminar até 1.000.000 litros de água.

Quando deitado em aterro, para além da contaminação dos solos, por cada tonelada de óleo alimentar usado são emitidas cerca de 14 toneladas de gases com efeito de estufa, associadas ao processo de biodegradação na ausência de oxigénio que acontece nestes aterros.

O que pode ser feito? 

Apesar de ser um resíduo prejudicial, pode ser facilmente reciclado e valorizado. Se o teu consumo de óleo alimentar é pequeno podes valorizá-lo em casa, fazendo, de forma fácil, velas aromatizadas a partir desse mesmo óleo ou transformando-o em sabão líquido para a tua casa de banho (confirma-se, tem um aroma excelente).

Não é apenas uma ótima forma de passar esta mensagem ecológica aos mais novos, deixando-os pôr as mãos na “massa”, mas também tem o seu impacto positivo no ambiente: cada vela destas previne a contaminação de 50 litros de água, enquanto um kit de sabão líquido consegue evitar a contaminação de 200.000 litros de água dos oceanos.

Para além do sabão e velas, a valorização mais rentável deste óleo está na possibilidade de produção de biodiesel: 1000 litros de óleos alimentares usados conseguem produzir cerca de 980 litros de biodiesel (um combustível eficiente que apresenta emissões de dióxido de carbono 80% inferiores ao gasóleo comum).

Entrega de óleos usados em óleões: 

Para que esta valorização aconteça, o óleo deve ser entregue nos vários óleões espalhados pelo país, normalmente encontrados junto a ecopontos, entrada de supermercados e outros locais e associações públicas. Basta que reserves os óleos que vais utilizando num recipiente (uma garrafa PET banal, por exemplo), fechá-lo bem (quando estiver cheio) e deixar o recipiente num dos óleões mais próximos de ti.

Que tipo de óleo posso colocar nos óleões?

Nestes óleões apenas deve ser colocado óleo de origem alimentar (óleo de fritura, azeites e óleos de conservas sem resíduos alimentares). Nunca coloques manteiga, margarina, óleos de motor ou lubrificantes – estes últimos são resíduos perigosos que impedem a valorização do óleo alimentar usado. Para além disto, todo o óleo que colocares nestes pontos de recolha deve estar isento de molhos, restos de comida, detergentes, entre outros resíduos.

Como encontrar os pontos de recolha mais próximos de mim? 

Que seja do nosso conhecimento, ainda não existe uma forma agregada, a nível nacional, de encontrar os óleões mais próximos de ti. Esta gestão e recolha de óleos está a cargo das Câmaras Municipais e o melhor será mesmo, junto da tua, descobrir os postos existentes no concelho – se és de Lisboa são estes, no Porto podes vê-los neste mapa interativo.

Para além das Câmaras Municipais, e pela fraca quantidade de óleões disponibilizados (um dos argumentos que explica a pouca reciclagem doméstica de óleos usados), algumas empresas entraram em cena, como a PRIO (focada em construir a sua rede de 600 oleões inteligentes), a Sogilub ou a ec3R, que disponibilizam postos e serviços de recolha em vários pontos do país.

Estima-se que em Portugal mais de metade (60%) de todos os óleos alimentares usados acabe nos esgotos.

Segundo a ZERO, os lares portugueses (sector doméstico) são responsáveis por “despejar” nos esgotos cerca de 17 milhões de litros de óleos usados por ano – quase 2 mil litros por hora. Estes números aumentam em 25% o custo de tratamento das águas residuais com prejuízos inestimáveis para o ambiente e planeta. Por outro lado, estes valores representam uma perda de 28 milhões de euros que poderiam ser valorizados em Biodiesel.

A taxa de recolha no sector doméstico é de 1,6% (para algumas associações ambientais, esta taxa é explicada pela falta de óleões e sensibilização). Outras taxas mostram também que a lei não está a ser cumprida – no sector da hotelaria, apesar de a entrega de óleos usados ser obrigatória por lei, apenas 46% destes foram realmente recolhidos em 2017.

Mais do que empresas, cerca de metade das autarquias não cumpre a legislação que obriga a instalar pontos de recolha em função do número de residentes (muitas delas com um número de pontos de recolha muito abaixo das exigidas por lei).

Vamos reciclar? 

As desvantagens de não tratar estes resíduos são claras e em grande número. O impacto negativo nos ecossistemas, na qualidade de vida dos cidadãos e nas indústrias relacionadas com atividades marítimas, como a pesca por exemplo, são algumas delas.

Com a facilidade de valorizar estes resíduos – em casa ou através da entrega de óleos usados em óleões – não há desculpas para continuar com velhos hábitos. Dá uma dieta nova ao teu lavatório e fá-lo esquecer para sempre estas gorduras desnecessárias. Se conservar o planeta é uma responsabilidade de todos, comecemos por deixar os nossos óleos bem longe dos nossos esgotos. E, com pequenos gestos como este conseguimos prolongar a vida do nosso planeta, gerar qualidade de vida, poupar recursos e criar valor em resíduos, supostamente, inúteis.

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