A Família Migalhas

Cristina Santos Costa // Outubro 25, 2017
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São meus vizinhos, mas apenas de fim-de-semana. Viajam pelo rio e tem vezes em que não os vejo, não nos cumprimentamos até que uma feliz coincidência nos volte a juntar.

Gostam-se e é bonita aquela relação de cumplicidade que trazem agarrada aos olhos. Vigiam-se numa atenção permanente aos perigos que as margens escondem e repartem as migalhas de pão que por ali vão rolando por vontade da gente da terra ou do vento.

Lá em baixo, bem no centro daquela pista inconstante deslizam num bailado síncrono que a água também faz música quando abraça as pedras macias que vão rolando ao sabor dos caudais.

Em dias mais afoitos sobem o empedrado e vêm sacudir as penas, abrindo aquele leque de cores que não eu sei descrever mas exibem orgulhosos ao sol.

Depois é aquele ritual de beijos e abraços. Naqueles toques mansinhos trocados entre bicos, naquele pentear das penas abertas para serem acariciadas, num namoro perfeito que não escondem dos humanos mais curiosos.

Não sei se têm nome próprio, quantos anos têm, se fazem projectos de ficar por ali.

Quando desço as escadas e os encontro rente à grade, ficamos a sentirmo-nos com a distância que a prudência vai encurtando. Acho que agradecem num ruído imperceptivel o pão cortado sem rigor.

Chamei-lhes a “Família Migalhas” …

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